A Importância do Biólogo no meio Biomédico e a Relação do Meio Ambiente com a Saúde
Os conceitos gerais da biologia e da medicina mudaram muito nos últimos anos. Ao aprender a manipular o material genético, a ciência abriu a porta de um novo mundo. Subitamente, pareceu possível desvendar os segredos dos micróbios e apreciar o funcionamento do sistema imunológico ao nível molecular, criando novas armas contra as doenças. As pesquisas nas áreas de biologia molecular, genética, imunologia, bioquímica, microbiologia e hematologia, entre outras, vêm inserindo o biólogo cada vez mais na área da pesquisa biomédica, principalmente no que diz respeito às causas e curas de doenças emergentes (doenças recentemente descobertas, como Ebola, Hantavírus, Sabiá, Febre de Lassa etc.), doenças reemergentes (doenças que tinham praticamente desaparecido e que voltam como a dengue e a febre amarela), algumas ainda causando epidemias como foi o caso da cólera, e mesmo doenças a muito conhecidas mas de causas e cura ignoradas, como vários tipos de câncer.
Câncer é um nome dado a diversas doenças caracterizadas pelo crescimento descontrolado de células anormais do organismo (que tiveram a função original alterada) oriundas de células de tecido normal. Alguns tipos de cânceres são aparentemente causados por vírus que mudam a composição genética das células causando crescimento descontrolado destas células que se tornam anormais.
O câncer têm sido objeto de muitas pesquisas como, por exemplo, o câncer de colo de útero (condiloma acuminato) que é o mais comum e um dos maiores causadores de morte entre as mulheres. Ele é causado pelo papiloma vírus humano (HPV), transmitido através da relação sexual, sendo responsável também por outras doenças, como a obstrução das vias renais. O HPV provavelmente provoca modificações no núcleo das células, causando alterações genéticas que possivelmente transformam células sadias em células cancerígenas.
A célula cancerígena é resultante de alterações genéticas que desorganizam os eventos celulares normais. O estudo das alterações moleculares envolvidas nesse processo permitirá um melhor entendimento da patogenia do câncer e pode ser utilizado para um diagnóstico mais preciso.
Atualmente, sabe-se que existem aproximadamente 100 tipos de vírus HPV, sendo ainda necessário pesquisar a forma de atuação de cada um deles. A participação do biólogo nesse tipo de trabalho é fundamental, pois trata-se de um estudo que necessita de demorada dedicação e ser feito por pessoas com conhecimento técnico, sendo os biólogos os profissionais preparados para esse trabalho de rotina e pesquisa.
A atuação do biólogo na área de saúde foi reconhecida pelo Conselho Nacional de Saúde na Resolução n 0 287, publicada no Diário Oficial da União n 0 86, de 7 de maio de 1999, assinada pelo Ministro José Serra, presidente daquele Conselho, passando a ser oficialmente uma “categoria profissional de saúde de nível superior” juntamente com médicos, enfermeiros, nutricionista, veterinários etc.
Os biólogos vêm se destacando no campo da pesquisa básica e aplicada, tanto na área biomédica como nas ciências ambientais que, em última análise, refletem um cuidado com a saúde coletiva, já que pretendem melhorar a qualidade de vida no planeta. Além disso, o conhecimento do meio ambiente é, na maioria das vezes, imprescindível no estudo epidemiológico de uma determinada doença ou epidemia.
Atualmente, sabe-se que, no combate às doenças e epidemias há a necessidade de médicos e cientistas de diversas áreas de atuação, como entomologistas, geneticistas, ecólogos, microbiologistas, infectologistas, químicos etc. que possam analisar e interpretar coletivamente os eventos microbianos.
A maioria das doenças, e principalmente as epidemias, têm um estreito relacionamento com a ecologia e o meio ambiente em que se desenvolvem. Cientistas vêm alertando que o crescimento desordenado da população humana, junto com seu apetite voraz de dominar o planeta e consumir recursos, colocará todos os sistemas biológicos e químicos da Terra em estado de desequilíbrio. Sabe-se que tanto o desflorestamento quanto o reflorestamento podem determinar um aumento na emergência microbiana . Por exemplo, à medida em que se destrói o ambiente natural de insetos transmissores de doenças que em seu ambiente picariam apenas animais silvestres, eles se adaptam ao ambiente humano, fazendo deles e de seus animais de estimação as suas principais vítimas.
Esses fenômenos têm sido sentidos em todos os países do mundo e, aqui no Brasil, temos sido testemunhas da emergência de vírus como o “sabiá”, causador de febre hemorrágica (descoberto em Cotia, São Paulo) e da reemergência de doenças causadas por microrganismos como os arbovírus (vírus transmitido por insetos) da febre amarela e da dengue, dois dos vírus mais perigosos do mundo, e protozoários, como os causadores da leishmaniose e da malária, entre outros.
Na verdade, nenhuma espécie, nenhuma corrente marinha, volume de ar ou pedacinho do chão é insignificante. Todas as formas de vida e sistemas químicos e físicos da Terra interligam-se de maneira complexa e invisível. A perda de qualquer um deles coloca em risco a saúde do planeta.
Assim, para lidar com desequilíbrios ambientais que já causaram, estão causando e ainda causarão catástrofes ambientais e epidemiológicas, com suas conseqüências, e para prevenir o que poderá acontecer, é cada vez mais óbvia a necessidade de equipes multidisciplinares atuando em conjunto.
Cláudia Maria Lisboa Ferreira Bastos, Especialista em Análises Clínicas e Toxicológicas.
Revista eletrônica de Ciências, São Carlos-SP. Ed. 39. 2007.