InícioGraduação & ProfissãoEntrevista: Prof. Kleber Del-Claro dá dicas para estudantes que pretendem estudar comportamento...

Entrevista: Prof. Kleber Del-Claro dá dicas para estudantes que pretendem estudar comportamento animal

Olá, nobre leitor!

Se você se interessa pela etologia (o estudo do comportamento animal), você veio ao lugar certo! Neste post você vai aprender o que é etologia e ainda terá a honra de receber alguns conselhos de uma pessoa com muita experiência nessa área, através da entrevista que eu fiz com o Prof. Kleber Del-Claro, autor do livro Comportamento Animal, grande conhecido nosso.

Pegue uma xícara de café, acomode-se e boa leitura.

O que é etologia?

Etologia é um estudo científico do comportamento animal, geralmente com foco no comportamento sob condições naturais, considerando-o como uma condição adaptativa evolutiva. Diferente da etologia, o behaviorismo (do inglês behaviour = comportamento) é um termo que também descreve o estudo científico do comportamento animal, mas geralmente refere-se ao estudo das respostas comportamentais treinadas em um contexto laboratorial e sem ênfase na adaptabilidade evolutiva.

Entrevista Prof Kleber Del Claro da dicas para estudantes que pretendem estudar comportamento animal
Konrad Lorenz (1903-1989), zoólogo e etólogo alemão.

Muitos naturalistas estudaram os aspectos do comportamento animal ao longo da história.

A etologia tem suas raízes científicas na obra de Charles Darwin e de ornitólogos americanos e alemães do final do século 19 e início do século 20, incluindo Charles O. Whitman, Oskar Heinroth, e Wallace Craig.

A disciplina moderna da etologia começou na década de 1930 com o trabalho do biólogo holandês Nikolaas Tinbergen e pelos biólogos austríacos Konrad Lorenz e Karl von Frish, premiados em 1973 pelo Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina.

A etologia é uma combinação de estudos no campo da ciência, com uma forte relação a algumas outras disciplinas como a neuroanatomia, ecologia e evolução. Etólogos são geralmente interessados em um processo comportamental em vez de um grupo animal particular, e muitas vezes estudam um tipo de comportamento, tais como agressão, cortejo, comportamentos relacionados às interações sociais, e vários outros, num número de animais não necessariamente relacionados. Desde o alvorecer do século 21, muitos aspectos da comunicação, emoções, cultura, aprendizado e sexualidade foram reexaminados, e novas conclusões alcançadas. Deste modo, novos campos, tais como a neuroetologia, se desenvolveram.

Enfim! Se você deseja se aprofundar ainda mais na etologia, baixe agora mesmo o livro Comportamento Animal. Agora, sem mais delongas, vamos direto ao que interessa, a entrevista com o professor Kleber Del-Claro!

Prof. Kleber Del-Claro. Foto: Facebook.
Prof. Kleber Del-Claro. Foto: Facebook.

Antes de começarmos a falar sobre a sua atual área de atuação, aposto que os leitores gostariam de saber como foi e quando surgiu a ideia de cursar Ciências Biológicas. O Sr. pode nos contar o que o levou a escolher a biologia como profissão?

Foi uma obra do acaso. Eu só tinha condição financeira para cursar a UNICAMP e isso se eu trabalhasse à noite. Fui bancário durante toda a graduação. Para a escolha do curso minha atual sogra teve papel fundamental. Ela foi da primeira turma de Rio Claro, História Natural e me mostrou as portas da Biologia. Um curso que eu seria aprovado na Unicamp, nesse eu sabia que passaria. Então, foi por acaso.

Quando começou a se interessar pela Etologia? Foi durante a graduação? Houve algo que lhe chamou a atenção, como algum livro, um vídeo, ou notou algo na natureza que o deixou curioso sobre o comportamento animal?

Desde criança criava bicho em casa, aranhas em vidro de maionese, peixes em aquário de caixa d’água de amianto. Gostava muito do livro “A Vida na Terra” e assistir ao Mundo Submarino de Jacques Custeou. O que me transformou em cientista foram as Aventuras de Jonny Quest. Mas fui mesmo para a etologia e mais propriamente para a ecologia comportamental depois de muitas desilusões na universidade com maus, ou melhor, péssimos orientadores em alguns laboratórios pelos quais passei. O maior problema da ciência no Brasil hoje não é dinheiro, nem espaço, é orientação. Quem fez a diferença na minha vida foram três professores, o João Vasconcelos Neto, o Fernando Antonio Frieiro Costa, o Paulo Sergio Moreira Carvalho de Oliveira e um colega o Gerson Augusto Ribeiro Silveira que ensinou muito sobre ética.

A etologia é uma disciplina que estuda o comportamento dos organismos através, principalmente, de abordagens ecológicas e evolutivas. Para se tornar um etólogo, o biólogo deve fazer mestrado/doutorado relacionado a estas duas áreas? Se não, em quais outras áreas o biólogo pode ingressar para se tornar um etólogo? Com base nisso, quais são os programas de pós-graduação no Brasil, que o Sr, conhece, mais interessantes para um futuro etólogo?

Qualquer um pode ser um etólogo, um observador da natureza e do comportamento dos animais, é um prazer na vida, um lazer, um remédio antiestresse antes de mais nada. Mas para ser um cientista nessa área a melhor coisa é fazer realmente Ciências Biológicas e se dedicar mesmo, de verdade ao curso. Pois hoje a etologia caminha cada vez mais para a ecologia comportamental e muita manipulação experimental e interdisciplinaridade é exigida.

Qual pós fazer? Bem, a questão para mim é diferente – onde terei um orientador que presta! Ou seja, onde haverá uma pessoa capaz de me ouvir, de me direcionar, de delinear um projeto de tese comigo e de uma vez por mês me dizer se estou fazendo tudo certo e ir ao campo quando eu pedir! Essa é a questão, você deve procurar pelo ORIENTADOR, o lugar é secundário. De preferência onde tiver bolsa, né?! E quem é esse tal bom orientador? O camarada tem que estar publicando regularmente, pelo menos uns dois papers por ano em revista indexada, sendo uma internacional, pra começo de conversa. Isso é o mínimo! Tem que já ter orientado na Iniciação Científica e algum outro mestre antes e tem que falar inglês, senão os dois estão perdidos.

Programas excelentes no Brasil com professores capazes de orientar em comportamento com muita competência tem alguns. Não vou nomear, vou falar apenas dos dois nos quais estou. Aqui na UFU nossa Ecologia é nota seis na CAPES. temos bons professores nessa área, como a Profa. Helena Maura Torezan Silingardi, Prof. Oswaldo Marçal Jr., Prof. Jean Carlos Santos, eu mesmo, dentre outros. Na USP-Ribeirão preto, no programa de Entomologia, nota 6 também, temos o Prof. Fábio nascimento, Prof. Rodrigo Pereira, Prof. Carlos Garófalo, eu também e outros.

Muitos alunos sabem o que querem, porém, a maioria não sabe por onde começar ou como conseguir boas oportunidades para aprender a estudar o comportamento animal e ingressar no mestrado. Qual conselho o Sr. pode dar para que os jovens possam encontrar oportunidades nesta área e rumar ao mestrado?

Ler muito, muito mesmo, é o começo. O livro é o primeiro orientador. Aprender inglês, de verdade – se vira, vai aprender. Sem inglês, é um analfabeto funcional em ciência. Eu fui aprender inglês depois que virei professor em Uberlândia, eu não tinha grana antes. Quando tive, me matriculei com os adolescentes e fui aprender – porque curso de inglês para adultos é hora de lazer, não é serio. Moleque tá acostumado a estudar e levar ralo, então a coisa flui.

Escolha uma coisa simples para começar, invertebrados, insetos, aranhas, perguntas simples. Precisa aprender o método, a formular um projeto, a escrever primeiro, depois trabalha com coisas mais complicadas. Você tem que ter em mente que para arrumar emprego (você precisa comer, né? Imagino eu. Ou seu filho precisa, né?) precisa publicar e ter experiência didática. Para publicar com qualidade e rápido em nossa área tem que ser com invertebrados ou anfíbios, alguns répteis e aves. A maioria se fascina por mamíferos, mas com eles a coisa é muito mais lenta. Aprende com invertebrados, você pode manipular sem muito problema, tem abundância, lhes dão a chance de errar, depois vai para o que realmente gostar.

Ser honesto, claro, escrever direito, ser respeitoso, ser confiável é fundamental, mas tem que ter a cara de pau de não ter medo de escrever para as pessoas e pedir orientação. Tem muita gente boa que quis trabalhar comigo e nunca me pediu por que é bobo. Eu ouço todo mundo e sempre dou uma coisa chamada “oportunidade”.

Quais livros você considera terem sido essenciais na construção de sua carreira, sejam eles relacionados diretamente à biologia ou não?

A Vida na Terra (David Attenborough)

Half-Earth – Our planet’s fight for life (Edward O. Wilson)

Zoologia Geral (Storer & Usinger)

Populações, Espécies e Evolução (Ernest Mayr)

O Admirável Mundo Novo (A. Huxley)

Comportamento Animal (J. Alcock)

Escrever um livro não é nada fácil e no ‘Comportamento Animal’ o Sr. relata que o escreveu no formato de guia, para ajudar futuros etólogos. Eu desejo muito escrever um livro e creio que a maioria dos leitores por aqui, também. Nesse sentido, quais conselhos o Sr. poderia nos dar, para que possamos também escrever um bom livro e ajudar outros jovens interessados pela biologia?

Dê uma boa aula. Dê uma aula que você goste, que você curta e sinta que aprende com sigo mesmo. Eu tenho que me tolerar todas as quartas-feiras das 7:15 às 10:40 e depois das 13:30 às 16:50. Então tem que ser gostoso para mim e para quem está perto. Eu tenho que sentir que aprendo com minhas aulas e então transmito elas para o papel. Meus livros são aulas escritas. E tudo que posso fica de graça na internet. Logo vou postar minhas aulas na internet.

Para finalizar, se pudesse dar apenas um conselho para que os graduandos que estão lendo esse post se tornem bons etólogos, qual seria?

Seja dedicado, estudioso, não existem gênios. Existem pessoas pacientes e persistentes, dedicadas. Seja honesto, seu nome vale muito. Primeiro, seja uma pessoa de valores e será um bom professor, um bom cientista. Não seja orgulhoso, nem prepotente, não “se ache”! Eu me considero simplesmente uma pessoa muito esforçada que procura fazer boas parcerias e ajudar os outros que estão à minha volta. Tenha objetivos e lembre-se que o ideal, nem sempre possível, por isso saiba reconhecer o que é possível. Dentro do possível para atingir seu ideal, comece pelo necessário e indispensável. Acredite em si mesmo, você deve ser o primeiro a ter fé e respeito por você mesmo. Persevere!

Abração!

O professor Kleber é docente na Universidade Federal de Uberlândia. Saiba mais sobre a sua linha de pesquisa acessando o seu laboratório, o Laboratório de Ecologia Comportamental e de Interações, e veja o vídeo abaixo para conhecê-lo um pouco melhor:

E aí? O que achou desse post? Tem sugestões para novas entrevistas? Por favor, deixe seu comentário e a sua sugestão abaixo!

Guellity Marcel
Guellity Marcel
Biólogo, mestre em ecologia e conservação, blogger e comunicador científico, amante da vida selvagem com grande interesse pelo empreendedorismo e soluções de problemas socioambientais.
ARTIGOS RELACIONADOS

POSTS RECENTES

spot_img