Para milhões de pessoas, está chegando a melhor época do ano – o natal! A ceia de natal é uma das datas mais esperadas, especialmente por ser uma época de fartura, com os mais variados pratos e guloseimas. Devorar o prato principal e comer de tudo um pouco apenas em um único dia, pode ser incrivelmente péssimo para a saúde. Mas, para uma píton birmanesa, enormes refeições são normais. Estas enormes cobras – que podem chegar a até 6,7 metros de comprimento – podem passar semanas ou meses sem comer, e então, elas têm de fazer valer as suas refeições.
Estas espécies de serpentes, as chamadas constritoras (que capturam e matam suas presas em um abraço mortal) têm muitas adaptações, que as permitem consumir quantidades de alimentos que seriam impossíveis se comparadas ao que um ser humano pode comer.
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Pítons birmanesas em cativeiro tem uma dieta à base de pequenos animais, como cobras e coelhos, mas em estado selvagem, elas comem animais tão grandes quanto veados e jacarés. Elas podem engolir suas presas inteiras, um feito possível graças a uma mandíbula que pode separar, permitindo que a cobra ingira uma criatura de quatro ou cinco vezes mais larga que a sua cabeça.
Pesquisadores radiografaram uma píton digerindo um jacaré e viram os tecidos duros do jacaré serem reduzidos em três dias, e em uma semana ele já estava completamente dissolvido.
Para digerir uma grande refeição, o corpo da píton deve passar por uma enorme mudança. Assim que ela ingere sua presa, tecidos do intestino da cobra começam a secretar vários ácidos digestivos e enzimas. O estômago produz grandes quantidades de ácido clorídrico e o pH diminui de um intestino ligeiramente alcalino de 7,5 para um muito ácido de 2.
A taxa metabólica da cobra aumenta rapidamente, atingindo um pico dentro das primeiras 48 horas e não volta ao normal até que a digestão seja terminada. E quanto maior a refeição, o metabolismo é mais rápido. Se ela comeu uma presa igual ao seu próprio peso, seu metabolismo vai ficar 44 vezes mais rápido do que quando está em repouso.
Durante uma refeição, há também uma série de mudanças no coração, onde os batimentos chegam a níveis mais elevados do que quando a cobra está em movimento. O fluxo sanguíneo aumenta intensivamente no intestino e o próprio músculo cardíaco também se torna maior, com a sua massa aumentando em 40 por cento em apenas dois dias. O coração não é o único órgão a aumentar de tamanho, o pâncreas, fígado e rins crescem bem. As células que revestem o intestino delgado – aquele que absorve a nutrição da refeição digerida – tem um aumento de 50% no seu volume.
Digerir esta refeição leva uma grande quantidade de energia, de tal forma que 37 por cento da energia derivada da refeição vai para o próprio processo de digestão. No momento em que a cobra regurgita o que não pôde digerir – cerca de uma a duas semanas após a primeira refeição – seu intestino e o resto do seu trato digestivo já voltaram ao seu normal.
Este conhecimento não vai ajudar qualquer um de nós a comer mais no natal (que pena), mas os cientistas esperam que possa um dia levar a terapias médicas para doenças do coração humano.