Você sabia que em muitas espécies os indivíduos machos e fêmeas podem viver separados, se encontrando somente na época reprodutiva? Pois é! Em ecologia nós chamamos esse fenômeno de Segregação Sexual. Muitos pesquisadores tem dedicado grande parte de suas vidas tentando entender como essas separações entre sexos ocorrem e quais são as suas implicações para as espécies.
Recentemente estive lendo alguns trabalhos de segregação sexual em ungulados (mamíferos com casco), especialmente sobre cervídeos, e encontrei vários trabalhos da pesquisadora Kathreen Ruckstuhl, da Universidade de Calgary, no Canadá. Logo me veio a ideia em mente: “Preciso falar sobre isso no EQB, afinal, esse fenômeno é tão comum e as pessoas não sabem como e por que isso ocorre”. Não pensei duas vezes e decidi entrar em contato com a Dra Kathreen! Trocamos alguns emails, conversamos, e eu expliquei que gostaria de divulgar algumas informações importantes sobre Segregação Sexual em meu blog. Perguntei se ela poderia colaborar com o blog, escrevendo sobre a sua linha de pesquisa, e ela gentilmente me respondeu, escrevendo um texto muito claro sobre o que é segregação sexual e quais são os principais mecanismos por trás desse fenômeno, especialmente em ungulados. Segue abaixo o texto.
Há diferenças próximas (mecanismos) e finais (razões) que explicam como e por que, em muitas espécies de vertebrados de tamanho adultos, os indivíduos são sexualmente segregados (machos e fêmeas não estão juntos nos mesmos grupos ou áreas) uns do outros. O fenômeno tem recebido muita atenção nas últimas duas décadas. A segregação sexual pode ser subdividida em cerca de dois tipos principais:
Segregação de Habitat
Segregação social
1. As explicações para a segregação de habitat:
1.1 – Diferenças nas estratégias reprodutivas e a evitação de predadores – Fêmeas e filhotes são mais vulneráveis, mas também menos tolerantes à predação do que os machos. As fêmeas, assim, renunciam a comida melhor para a segurança de seus filhotes, enquanto os machos maximizar a ingestão de alimentos e tolerar o risco de predação maior do que as fêmeas. Os sexos acabam em diferentes habitats por causa de diferentes estratégias que maximizam as suas aptidões (causa final).
1.2 – Diferenças nas exigências nutricionais – Machos e fêmeas diferem no tamanho do corpo e, portanto, na necessidade de energia. Isso os leva a usar diferentes tipos de habitats ou a forragearem de forma diferente em diferentes áreas (causa imediata).
1,3 Diferenças na tolerância térmica – Um sexo é mais suscetível ou menos tolerantes a condições meteorológicas extremas (muito quente ou muito frio).
Minha observação: Aqui no Brasil, ou especialmente nas regiões tropicais, os ungulados de modo geral não estão sujeitos a este efeito, afinal, as temperaturas no inverno ou no verão tendem a ter uma variação pequena. Sendo assim, essas diferenças na tolerância térmica entre os sexos são mais evidentes em ambientes onde o frio é extremo.
2. Explicação de segregação social:
2,1 – Diferenças nos custos das atividades – Machos e fêmeas diferem no tamanho do corpo e, portanto, nos requisitos de energia. Como resultado, as suas atividades tem diferentes custos (tempo gasto dormindo, se deslocando, forrageando), que os leva à separação, já que a a sincronização dessas atividades seria muito cara em termos energéticos (Causa imediata).
2.2 – Diferenças na atração social – Machos e fêmeas são intrinsecamente atraídos para o mesmo sexo. Nestes grupos unissex, eles aprendem habilidades diferentes, de acordo com os diferentes papéis sexuais.
Minha observação: Em algumas espécies de cervídeos, as mães expulsam os filhotes machos quando atingem uma idade específica. Quando os machos começam a formar seus pequenos bandos (na maioria das vezes, temporariamente), os machos menores e mais jovens podem aprender muitas coisas, como, por exemplo, a disputar recursos com outros machos. Estes conflitos internos preparam os machos para quando estes forem disputar fêmeas durante o período reprodutivo, território e outros recursos importantes. Do mesmo modo, as fêmeas, quando em bandos, também tendem a aprender umas com as outras.
Esta não é uma lista abrangente sobre segregação sexual. Porém, se estiver interessado, você deve ler os muitos trabalhos seminais publicados sobre o tema. Que tal começar conhecendo o trabalho da Dra. Kathreen?
Estou interessada na organização social dentro de grupos, afinidades e associações entre os membros do grupo, o custo e os benefícios da vida em grupo, tais como a competição por comida e companheiros, parasitas e transmissão de doenças, e de cooperação, para citar apenas alguns aspectos. Meus esforços mais recentes estão se concentrando na compreensão de estruturas de rede sociais em diferentes sociedades animais e os benefícios e/ou custos potenciais que poderiam estar associados com determinadas posições dentro de uma rede. Meus alunos atuais estudam uma variedade de espécies de vertebrados no campo (ou laboratório), tais como carneiros selvagens, veados, alces, coiotes, esquilos vermelhos e peixes (laboratório), com um foco de investigação sobre parasitas, ecologia e comportamento.
Para maiores informações, visite o site da Dra Kathreen Ruckstuhl!