Para as tartarugas marinhas cabeçudas, a casa é onde seu coração (magnético) está. Após a eclosão em praias de todo o mundo, estes enormes répteis marinhos realizam migrações plurianuais épicas no mar. Em seguida, as tartarugas retornam ao local exato onde nasceram para acasalarem e botarem seus ovos. Os cientistas sabem há muito tempo que as tartarugas, como muitos animais, navegam no mar através da detecção de linhas invisíveis do campo magnético, semelhante à forma como marinheiros usam a latitude e longitude. Mas eles não sabiam como as tartarugas eram capazes de voltar para o mesmo lugar onde nasceram.
Agora, um novo estudo tem a resposta: As tartarugas também dependem do campo magnético da Terra para encontrar o caminho de casa. Isso porque cada parte do litoral tem a sua própria assinatura magnética, que os animais se lembram e depois usam como uma bússola interna.
Filhote de tartaruga cabeçuda que acabou de sair do ovo, indo em direção ao mar. Foto: Michael Melford / National Geographic.
Não é um trajeto fácil, pois o campo magnético muda lentamente, e isso faz com que seus locais de nidificação alterem em resposta, de acordo com o estudo, publicado na revista Current Biology.
“É muito fascinante como essas criaturas podem encontrar o seu caminho através desta vasta extensão de nada”, disse o co-autor J. Roger Brothers, um estudante de graduação de biologia na Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill.
Perdidos e Achados
Tartarugas cabeçudas, que pesam cerca de 113 kg, ocorrem nas águas mais geladas dos oceanos em todo o mundo. Apesar de viajarem centenas de quilômetros no mar, elas parecem preferir habitats costeiros, e são as mais abundantes de todas as espécies de tartarugas marinhas em águas norte-americanas.
Todos os anos, milhares de voluntários caminham ao longo das praias de areia branca da Flórida para contar locais de nidificação dessas tartarugas, que fornecem aos cientistas um conjunto de dados da população.
Tartaruga cabeçuda nadando em uma reserva de proteção marinha. Foto: Brian J. Skerry / National Geographic.
Ao mesmo tempo, os pesquisadores têm seguido mudanças sutis no campo magnético da Terra ao longo das costas da Flórida, utilizando bússolas para medir a força do campo e outras propriedades que mudam com o tempo. Então, se as tartarugas marinhas cabeçudas realmente usam o campo magnético da Terra para voltar para as praias onde nasceram, então, a mudança no campo deve levar a mudanças nos locais correspondentes de nidificação das tartarugas cabeçudas.
Roger Brothers e outros pesquisadores combinaram os dados dos voluntários sobre ninhos de tartaruga e os dados oficiais sobre o campo magnético para criar um mapa dinâmico, que mostrou como cada variável mudou ao longo do tempo. E os resultados apoiaram a hipótese dos cientistas: os ninhos de tartarugas marinhas cabeçudas se movem em conjunto com as mudanças no campo magnético.
Interferência correndo
“O importante sobre esse artigo é que ele usa uma medida diferente da importância da navegação magnética, olhando para o movimento de tartarugas. Isso não foi feito antes, e é realmente um grande trabalho”, disse Peter Meylan, um biólogo marinho no Eckerd College, na Flórida, que não estava envolvido no estudo.
Nathan Putman, um biólogo do Centro de Ciências Pesqueiras do Sudeste, acrescentou: “É realmente um trabalho criativo, do tipo que faz você pensar: ‘Por que eu não pensei nisso antes?'”
Os resultados podem também influenciar as estratégias de conservação para esses répteis ameaçados de extinção, disse Roger Brothers. Os encontros destes animais têm diminuído devido à poluição, a pesca de arrasto de camarão, o desenvolvimento em suas áreas de nidificação, entre outros fatores.
Por exemplo, muitos conservacionistas cercam ninhos de tartarugas cabeçuda com gaiolas de arame. Uma vez que estas gaiolas são geralmente metálicas, a prática pode interferir na capacidade das tartarugas de encontrar o seu caminho de casa.
Fonte: National Geographic