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Conheça os primatas hibernantes subterrâneos

Olá! Hoje trago aqui um artigo muito interessante, ou melhor, interessantíssimo. Este artigo é sobre uma pesquisa realizadas com os lêmures de Madagascar. Com o título Underground hibernation in a primate, publicado no dia 2/05/2013 na revista Nature, este artigo tem atraído muita atenção, principalmente a dos mastozoólogos.

No trabalho realizado foram estudadas duas espécies de lêmures anão de Magadascar em Tsinjoarivo (Cheirogaleus sibreei e C. crossleyi), que são espécies que compõem o único gênero de primata capaz de hibernar.

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O fato do lêmure anão de Madagascar apresentar uma certa letargia de acordo com a sazonalidade vem sendo percebido há décadas, fato que motivou o surgimento da suspeita de que eles poderiam hibernar. Porém, somente com este estudo, resultados satisfatórios foram obtidos.

Resumo do artigo:

A hibernação em mamíferos é um estado extraordinário de heterotermia, onde as taxas metabólicas são reduzidas, a temperatura corporal atinge níveis ambientais, e as funções fisiológicas fundamentais são suspensas. Tipicamente, a hibernação é observada em mamíferos adaptados ao frio, embora também tenha sido documentada em espécies tropicais de primatas, tais como o lêmure anão de Madagáscar. Os lêmures anão de cauda gorda (do inglês fat-tailed) (C. medius) são conhecidos por hibernarem durante sete meses por ano dentro de buracos de árvores. Aqui, nós relatamos pela primeira vez a observação de que os lêmures anão C. crossleyi e C. sibreei também hibernam, embora seja uma hibernação subterrânea. Por isso, vamos mostrar evidências de que um primata sem garras (do inglês clawless) é capaz de enterrar-se debaixo da terra. Nossos resultados demonstram que os lêmures anão podem hibernar no solo (subterrâneo) em florestas tropicais o que revela paralelos imprevistos à hibernação de mamíferos das regiões temperadas. Esperamos que este trabalho ilumine as informações fundamentais sobre a influência da temperatura, a limitação de recursos e uso de hibernacula isolada sobre a evolução da hibernação.

Obs.: Hibernácula é um termo na zoologia que define o local onde um animal escolhe para hibernar.

O estudo realizou o monitoramento da hibernação de duas espécies de lêmures (C. sibreei e C. crossleyi) e comparou as temperaturas corporais, do local de hibernação e do ambiente entre com dados não publicados sobre uma outra espécie de lêmure que hiberna em buracos de árvores, a C. medius.

Através da técnica de monitoramento dos indivíduos de ambas espécies (C. sibreei e C. croosleyi) por radiotelemetria foi possível observar onde é que eles se alojam durante as sazonalidades ao longo do ano.

Para confirmar a hibernação destes animais em buracos no solo, foram escavados alguns locais com depressões que poderiam ser os locais de hibernácula, onde foram encontrados 6 indivíduos sendo 2 C.sibreei e 4 C. crossley. 

Estes animais foram encontrados em buracos com profundidades de 10 a 40 cm, em meio às raizes, caules, folhas, húmus, pêlos radiculares e folhas mortas. Além disso, em torno destes locais haviam alguns buracos próximos que possivelmente serviriam como pontos de entrada ou saída.

A figura abaixo demonstra a flutuação da temperatura corporal de C. medius (letra a / b) e C. crossley (c / d), em dois tipos de ambientes classificados como mal isolados (letra a / c) e altamente isolados (letra b / d):

Legenda da figura em relação às linhas dos gráficos e suas cores:
Para C. medius: Temperatura da pele (preto sólido), do buraco na árvore (cinza sólido) e do ambiente (cinza pontilhado). Para C. crossleyi: Temperatura da pele (preto sólido), do buraco subterrâneo (cinza sólido) e do ambiente (cinza pontilhado).

Nota: Os resultados obtidos da espécie C. medius foram extraídos da pesquisa de Dausmann (dados não publicados).

Facilmente estes lêmures (C. sibreei e C. crossleyi) conseguem manter a temperatura corpórea acima dos 30ºC durante hibernação, e a temperatura ambiente ao longo das estações também varia entorno desta faixa de 30ºC. Este fato se deve principalmente por Madagascar possuir um clima tropical quente e seu inverno não ser rigoroso, pelo contrário, por não apresentar diminuições drásticas na temperatura ambiente.

Veja dois vídeos dos pesquisadores retirando os animais hibernantes do solo:

Os pesquisadores concluíram que a hibernação nos buracos no solo pode representar a condição dos ancestrais deste gênero e que somente um estudo sistemático e detalhado da hibernação destas espécies possibilitará um entendimento que explique se a hibernação no solo é algo normal ou apenas uma exceção. Devido ao fato destes animais serem arborícolas, definitivamente a hibernação pode de fato representar a condição ancestral do gênero e pode ser relacionada com a evolução dos lêmures anão de Madagascar nas regiões mais altas. Os resultados também sugerem algo interessante, pois estes primatas não possuem garras e ainda sim conseguem hibernar no solo, onde acabam fugindo das condições adversas dos invernos no leste de Madagascar, economizando energia.

Para ler o artigo na íntegra clique aqui.
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Guellity Marcel
Guellity Marcel
Biólogo, mestre em ecologia e conservação, blogger e comunicador científico, amante da vida selvagem com grande interesse pelo empreendedorismo e soluções de problemas socioambientais.
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