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Biomas terrestres

A natureza é formada por um complexo de mosaicos de manchas com diferentes tipos de vegetações, climas e variadas formas de organismos que compõem a fauna destes locais. 
Em ecologia, chamamos de biomas um conjunto específico de formas vegetais e fauna associados à marcantes características climáticas.
Porém, é interessante lembrar que as formas de vida em determinados biomas terrestres não são de fato pertencentes ou somente restritas à estes. Diversas espécies de vegetais e animais podem existir em variados biomas terrestres.
Segundo o site da revista Nature, o “The Nature Education – Knowledge Project”, num texto escrito por Irwin N. Forseth com o título “Terrestrial Biomes” ou “Biomas Terrestres” em português, a definição específica de biomas é:

O conceito de bioma organiza as variações ecológicas em largas escalas. Biomas terrestres são distinguidos primariamente pelas suas vegetações predominantes e são determinados principalmente pela temperatura e pluviosidade.

Ainda segundo este artigo, existem oito biomas terrestres em todo o planeta, sendo eles:

  1.  Floresta Tropical
  2. Savana
  3. Desertos
  4. Campos/pradarias
  5. Floresta Temperada Decídua
  6. Clima Mediterrâneo
  7. Florestas de Coníferas do Norte
  8. Tundra
FLORESTA TROPICAL
As florestas tropicais estão localizadas próximas à linha do Equador. A América Central e América do Sul possuem a maior parte das florestas tropicais do planeta. O clima nestes biomas apresenta uma pequena variação sazonal. com alta pluviosidade anual e relativamente constante, e, temperaturas elevadas.

Floresta amazônica, a maior floresta tropical do mundo

As florestas tropicais possuem a maior biodiversidade e também a maior produtividade primária líquida dentre todos os biomas terrestres, com 2-3kg de biomassa (peso seco) por metro quadrado por ano. Esta alta produtividade primária é sustentada por solos carentes em nutrientes provavelmente devido à alta de atividade biológica em umidade (decomposição) e, os vegetais em sua maioria apresentam relações mutualísticas com diversas espécies de fungos (micorrizas), facilitando a absorção de nutrientes.
Este bioma possuir aproximadamente a metade da riqueza de espécies da terra em relação aos biomas terrestres. Estima-se que existam de 100.000 a 250.000 espécies de plantas vascularizadas já descritas que ocorrem no bioma florestas tropicais. E não é só riqueza de espécies vegetais não! Foram identificadas 1.209 espécies de borboletas na Reserva Tambopata no sudeste do Peru em aproximadamente 55 km², comparado com as 380 espécies encontradas na Europa e África do Norte juntas.
Diversos sub-biomas compõem a floresta tropical, como a floresta tropical perene, floresta estacional decidual, floresta tropical de nuvens (ou floresta tropical de altitude) e manguezal.
SAVANAS
Localizadas na região norte e sul das regiões tropicais, as savanas apresentam baixa pluviosidade anual e longos períodos de secas. Esses biomas são dominados por uma mistura de campos e florestas pequenas. As savanas cobrem cerca de 60% da África e representa a transição das florestas tropicais para os desertos.

As árvores nas savanas são usualmente decíduas durante a seca e diversos tipos de vegetações de savana estão associados com diferentes padrões de chuva, altura do lençol freático e a profundidade do solo, sendo distinguidas pela abundância de árvores e campos.

Repetitivas estações de secas e queimadas tem ocorrido na savana africana há mais de 50.000 anos. As queimadas regulam o balanço entre as florestas e os campos nas savanas. Além disso, as queimadas são muito importantes pois atuam liberando diversos nutrientes em forma de matéria orgânica morta nos solos. O solo destes ambientes é um grande isolante térmico, o que propicia a proteção dos rizomas e caules das plantas das savanas contra as queimadas.

A produtividade primária líquida é de 400 a 600g por km²/ano, porém, podem variar de acordo com os tipos diferentes de solo. A taxa de decomposição é elevada ao longo de todo o ano, e o volume anual de folhas produzidas é elevado também. Este grande volume de folhas se dá pela elevada riqueza de espécies vegetais que sustentam grandes espécies de herbívoros, que podem consumir de 60 a 80% de toda matéria vegetal em certos períodos do ano.

A alta riqueza de espécies de herbívoros, juntamente com a grande produtividade primária, reflete na grande variedade de predadores e necrófagos encontrados nas savanas.

DESERTOS
Os desertos ocorrem em áreas localizadas próximas aos 15-30º latidudinais acima e abaixo (norte e sul) da linha do equador. Eles cobrem de 25 a 30% da superfície terrestre. O clima dos desertos é predominado pela baixa precipitação anual, geralmente abaixo de 200mm por ano!

Porém, não existem somente os desertos secos e quentes! Existem vários tipos de desertos, como os desertos gelados, desertos de elevação, desertos de sombra de chuva (do nome em inglês “rain shadow deserts”).
Consequentemente, os desertos apresentam grandes variações quanto às suas composições em biodiversidade, produtividade e encontrados nos diferentes tipos de desertos.
A biomassa de plantas dominantes na maioria dos desertos é composta por arbustos pereniais de raízes extensas, folhas pequenas de colorações acinzentadas ou esbranquiçadas. A biodiversidade dos desertos pode sobreviver à vários períodos de secas, que podem duram muitos anos. Várias espécies e sementes podem sobreviver ‘enterradas’ no solo e ficar por vários anos assim até que condições e recursos favoráveis estejam disponíveis novamente.
Os desertos de inverno/gelados na América do Norte, em anos com muitas chuvas, podem produzir uma biomassa de 1km por m²/ano! Enquanto outros ficam sem receber chuvas por décadas ou até mais anos. Com exceção de alguns desertos que apresentam elevadas florações anualmente, a maioria dos desertos  no planeta tem uma produtividade primária líquida muito baixa. Assim como nas savanas, a biodiversidade varia conforme a produtividade primária e os diferentes tipos de solo, altura do lençol freático e capacidade de armazenamento de água.
CAMPOS/PRADARIAS
Os campos ou “Grasslands”, ou também pradarias, ocorrem primariamente no interior dos continentes e são caracterizados pela larga variação sazonal da temperatura, com verões quentes e invernos muito frios. A precipitação varia, com fortes picos no verão. As comunidades e toda a biodiversidade existente nos campos, incluindo as pastagens e vegetações rasteiras, dependem fortemente da precipitação. Quanto mais chuvas, maior é a produtividade, e quanto menor a precipitação, menor a produtividade e mais árido o ambiente tende a ser.
A produtividade primária líquida em áreas áridas situa-se em torno de 400 g m²/ano, enquanto que nas áreas que recebem mais chuva possuem produtividade de cerca de 1 kg m²/ano.
Os campos possuem florestas decíduas em suas margens úmidas e desertos em suas margens mais secas. As zonas de transição entre pastagens e florestas mudam de acordo com a precipitação local, secas, queimadas. As queimadas propiciam uma vantagem às pastagens frente sobre as comunidades florestais.
Três forças maiores dominaram a evolução dos vegetais nos campos: as queimadas recorrentes, as secas periódicas e as pastagens. Esses fatores levaram a dominância dos vegetais hemicriptófitos (que perdem a biomassa da parte aérea) em pastagens perenes, com raízes localizadas abaixo do solo. Muitas herbáceas crescem num ritmo constante, onde os seus meristemas ficam localizados abaixo do solo, de tal modo que não são predados. Assim, elas podem continuar crescendo mesmo com a atividade de pastejo constante dos herbívoros.
Muitos dos maiores animais terrestres são encontrados nos campos, especialmente em pastagens, como os cangurus cinza (Macropus giganteus) na Austrália, bisão (Bison bonasus) e zebras (Equus spp.) Na Eurásia e América do Norte faziam parte das assembléias de espéciees, grandes animais de pastagens, seus predadores e carniceiros. Rebanhos remanescentes na América do Norte sugerem que as perturbações devido a herbívoros aumentou a biodiversidade local através da criação de diversos nichos que espécies raras poderiam colonizar. Grandes herbívoros também aceleram a decomposição de plantas através de suas fezes, promovendo a alteração na composição de espécies em diferentes locais.
FLORESTA TEMPERADA DECÍDUA
As florestas temperadas decíduas ocorrem nas médias latitudes, com invernos frios e verões quentes. A faixa de produtividade primária líquida situa-se entre 600-1500g m²/ano. Este bioma tem este nome, devido às árvores que perdem as suas folhas durante os meses de inverno (árvores decíduas). Estas florestas podem atingir um dossel de 20 a 30 metros, com arvores menores e arbustos de 5 a 10 metros, e um pequeno estrato arbustivo de 1 a 2 metros, juntamente com uma camada de plantar herbáceas.
A biodiversidade é relativamente alta neste bioma, devido ao particionamento de nichos permitido pelas várias florestas. Florestas mais complexas estão associadas a um maior numero de espécies de animais, por exemplo, a diversidade de espécies de aves mostra uma correlação positiva com a altura da floresta e o número de camadas destas.
CLIMA MEDITERRÂNEO
O bioma do clima mediterrâneo é pequeno, com aproximadamente 1,8 milhões de quilômetros quadrados, dividido em 5 regiões distintas. Os verões são quentes e secos e os invernos são frescos e úmidos. Diversas espécies de arbustos e árvores esclerófitas (adaptadas a longos períodos de seca) evoluíram de forma independente em cada uma dessas áreas, o que evidencia a evolução convergente entre estas espécies.
A produtividade primária líquida varia em torno de 300-600 g m²/ano, dependendo da disponibilidade de água, profundidade do solo, e idade das florestas. A produtividade diminui após 10-20 anos, acumulando nutrientes e biomassa lenhosa. Incêndios recorrentes ajudam na ciclagem de nutrientes e muitas plantas mostram respostas induzidas pelo fogo, como a floração e produção de frutos.
Algumas espécies são capazes de rebrotar por possuírem diversas gemas protegidas do fogo, abaixo da camada superficial do solo. Algumas espécies vegetais possuem sementes com elevada dormência e estas só germinam após processos de queimadas (terófitas). O fogo é um importante fator neste bioma. Vegetais terófilos compões uma grande parte da flora, e os seus locais de ocorrência estão associados à aberturas de clareiras causadas pelo fogo.
FLORESTA TEMPERADA DE CONÍFERAS/FLORESTA BOREAL
A floresta de coníferas do norte, floresta boreal ou também floresta temperada de coníferas, é um bioma que ocorre em elevadas altitudes, dominado por vegetações que possuem folhas pequenas, tolerantes à seca, árvores verdes e um clima que consiste de invernos longos e muito frios, e verões curtos e frios. As florestas são compostas basicamente por duas camadas, um dossel de árvores e uma camada de solo com herbáceas e musgos. O dossel de grande parte da floresta boreal é composto por apenas uma ou duas espécies. A biodiversidade destas florestas é baixa, reflexo da produtividade primária líquida de aproximadamente 200-600 g/m²/ano. A produtividade varia com a precipitação, a duração dos períodos de inverno, a drenagem do solo local e outros fatores.
Em áreas alagadas, pântanos podem se desenvolver. A acidez deste ambiente, as condições de anoxia (carência de oxigênio) e o retardamento da decomposição, propiciam o desenvolvimento das turfeiras.
TUNDRA
As tundras são encontradas nas latitudes acima das florestas boreais, numa área pantanosa onde as estações de crescimento são muito curtas e as temperaturas ficam abaixo de 0ºC na maior parte do ano. Devido a estas baixas temperaturas e estações de crescimento curtas, a produtividade primária líquida é muito baixa na tundra, entre 100-200 g/m²/ano. A produtividade varia com a profundidade da camada de neve e a drenagem local dos solos. Campos rupestres e prados secos tem produtividade menor do que nas áreas  frias baixas e úmidas.
A biodiversidade baixa na tundra é dominada por musgos, liquens e arbustos perenes de baixo crescimento. O bioma tundra contém apenas 3% de toda a flora mundial. Até 60% da flora deste bioma pode ser composta por hemicriptófitos de vida longa. As condições do vente e temperaturas baixas seleciona os arbustos que crescem mais para baixo, muitas vezes hermeticamente isolados, com copas arredondadas, folhas e ramos espaçados.
A morfologia do dossel reduz a velocidade do vento e absorve a radiação solar, resultando em temperaturas de até 10ºC acima da temperatura do ar em dias ensolarados. Os solos são pobres em nutrientes devido à lenta taxa de decomposição e plantas de longas duração retém nutrientes nos tecidos verdes. A fixação do nitrogênio é realizada por linques ou por cianobactérias que são importantes fontes de nitrogênio no solo. Os animais tem longos períodos de hibernação ou migram sazonalmente de acordo com a disponibilidade de alimentos e refúgios contra o rigoroso inverno.
Guellity Marcel
Guellity Marcel
Biólogo, mestre em ecologia e conservação, blogger e comunicador científico, amante da vida selvagem com grande interesse pelo empreendedorismo e soluções de problemas socioambientais.
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