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Contra a Educação Ambiental ser uma disciplina nas escolas

Muito tem se falado e ouvido sobre a Educação Ambiental ser uma disciplina obrigatória nos currículos do ensino básico de ensino (ensino fundamental e médio). O que parece ser uma solução para muitos, outros pensam o contrário.

Há em tramitação o Projeto de Lei de nº 221, de 2015 em que o Senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), apresenta a proposta de modificar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) para transformar o tema da Educação Ambiental em matéria obrigatória para os alunos de todas as séries do ensino básico. Em sua justificativa, o Senador diz acreditar que a criação de uma disciplina específica é a melhor maneira de transmitir conhecimentos ambientais às novas gerações de forma efetiva, alegando também que a Educação Ambiental é tratada como tema transversal, inviabilizando uma prática contínua.

Contra a Educação Ambiental ser uma disciplina nas escolas

Mas isso seria uma solução?

Nós Educadores Ambientais, especialistas em Educação Ambiental, pensamos diferente, pois a solução das questões relacionadas à sustentabilidade e socioambientais exige um tratamento mais profundo, complexo e diferenciado.

A jornalista Tereza Moreira, que atua na Coordenação Geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação (MEC) considera a mudança na Lei um retrocesso, estabelecendo limites e fragmentando ainda mais as disciplinas.

“Penso que a educação ambiental pode ser o elemento aglutinador no currículo escolar, capaz de ressignificar o que se aprende na escola. Por quê? Porque as questões ambientais permeiam o cotidiano de todos nós e tratá-las nas diferentes disciplinas permite aproximar o conteúdo teórico daquilo que se vive dentro de casa, no bairro, na cidade, na região, no país e no planeta.

Mais do que prescrever comportamentos “ecologicamente corretos”, a educação ambiental deve instigar as pessoas a estabelecerem relações e nexos entre seu modo de vida, sua maneira de produzir e consumir, seus desejos e aspirações, seus valores e comportamentos éticos e as implicações de suas escolhas sobre o meio natural, sobre as suas comunidades e sobre a sociedade em geral.

Os temas desenvolvidos pela educação ambiental são multidimensionais, articulando questões científicas, políticas, econômicas, sociais, éticas, estéticas e culturais. Nesse sentido, a educação ambiental, pela sua própria concepção, permite desenvolver nos estudantes o pensamento sistêmico, já que os sistemas, os fluxos e as relações constituem a base da ecologia. Pensar a educação ambiental como uma disciplina entre tantas outras da “grade” curricular me parece uma prática reducionista, um retrocesso e uma negação da concepção exposta acima. O conceito de “grade” remete a algo que estabelece limites, criando segmentos desconectados.

Nesse contexto, a educação ambiental parece cumprir uma função muito mais adequada a uma visão prescritiva e normativa, voltada à definição de comportamentos individuais desejáveis no trato com o ambiente. Isso me parece uma visão limitadora, que implica em perda de potência sobre a reflexão e a ação dos estudantes”, explicou.

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Tereza Moreira, à esquerda, em Congresso na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Sem que haja uma mudança cultural, a legislação mais lúcida, a tecnologia mais limpa, a pesquisa mais sofisticada ou uma simples disciplina não conseguirão encaminhar a sociedade no rumo da sustentabilidade. Para isto, se faz necessária uma mudança individual e coletiva, uma mudança de visão de mundo e do nosso lugar nele. 

Abaixo, encontra-se o link do manifesto produzido por educadores e educadoras ambientais contra a PLS 221/2015. Acesse, assine, reprove essa proposta.

Luiz Henrique Valverde
Biólogo, Educador Ambiental

Guellity Marcel
Guellity Marcel
Biólogo, mestre em ecologia e conservação, blogger e comunicador científico, amante da vida selvagem com grande interesse pelo empreendedorismo e soluções de problemas socioambientais.
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