Faz parte da vida ter dúvida. E, claro, também faz parte pensar que as nossas são maiores que as de todo mundo. Eu sempre tive dúvida sobre o que deveria fazer de faculdade. E quando acabei fiquei em dúvida do que fazer depois. No mestrado fiquei pensando se era isso mesmo que queria. E hoje, já no doutorado, volta e meia no ônibus para casa penso se estou no caminho certo. Isso porque, algumas vezes,realmente pego o ônibus errado, e outras porque não sei se era isso mesmo que gostaria de fazer na vida.
O problema, no entanto, não é apenas nosso. Aparentemente hoje a vida é feita de infinitas possibilidades. Por exemplo, na USP – Universidade de São Paulo são 98 diferentes graduações que o vestibulando pode escolher. E segundo o Wikipédia, esse número chega a 218 possibilidades no Brasil como um todo. Os cursos vão de Biologia e Bioenergia Sucroalcooleira até Direito e Design de jogos digitais. Sem contar outras coisas que podemos teoricamente trabalhar, como cuidar de uma ilha no meio da barreira de corais na Austrália[1] . Assim, é normal que depois de escolher uma faculdade, começar a se questionar se dentre as outras 217 possibilidades não tenha alguma que se seja ainda mais adequada. Ou que depois de um dia estressante fiquemos cheio de vontade para aplicar para aquele emprego na Austrália. É a mesma situação comos canais de televisão. As 350 possibilidades nos deixam simplesmente perdidos sobre o que assistir.
Essa minha angustia sobre tantas possibilidades na vida,me fez começar a tentar encontrar pessoas que sempre tiveram certeza do que estavam fazendo. Tal curiosidade virou o livro: “O homem que salvou Nova York da falta de água e outros 11 mestres da sustentabilidade”. O projeto começou com uma busca por histórias de pessoas que sempre tinham certeza do que iriam fazer e assim mudaram o mundo. No entanto, eu encontrei algo complementarmente diferente. As pessoas tinham mudado o mundo porque eram cheias de dúvidas do que estavam fazendo, e não ao contrário. Essas 12 mulheres e homens me disseram que assim como eu, minha mulher, o meu vizinho, talvez o meu cachorro e a grande maioria das pessoas sempre tiveram dúvidas daquilo que estavam fazendo. E aindamais, alguns desistiram da profissão e começaram coisas completamente diferentes aos 30, 40 e até 50 anos de idade. E segundo eles, foi apenas assim, que conseguiram fazer algo diferente.
O que eu aprendi depois que terminei o livro é que ter dúvida faz parte da vida. Simplesmente, temos que aprender a conviver com elas. A escolha da profissão muitas vezes é um processo aleatório. Talvez seja mais fácil escolher a profissão errada do que a certa. Entretanto, o que nos vai dizer que aquilo que estamos fazendo é legal ou não serão: o ambiente de trabalho, as pessoas que convivemos e os momentos de felicidade que acabam aparecendo ao longo do dia. Se isso tudo estiver errado, nunca é tarde para tentar algo diferente. Por isso, sinta-se feliz com as suas dúvidas, pois elas fazem parte da nossa autorreflexão sobre quem realmente somos. Tê-las é saudável. No entanto, se alguém tiver alguma dica de canal de televisão, por favor, estou aberto a sugestões.
[1] http://noticias.uol.com.br/empregos/ultnot/2009/01/13/ult6957u205.jhtm