InícioAnimais & PlantasFungos, sociedade e meio ambiente: caminhos para o desenvolvimento sustentável

Fungos, sociedade e meio ambiente: caminhos para o desenvolvimento sustentável

Pode parecer estranho para muitas pessoas, mas os fungos podem ajudar a resolver muitos desafios da sociedade, que abrangem desde a recuperação da poluição ambiental até a aquisição de uma vida mais sustentável. Para melhor compreender como os fungos são tão importantes para o planeta, é necessário conhecer o seu estilo de vida, isto é, seu papel ecológico nos ecossistemas.
 
O micélio dos fungos pode ser encontrado ocupando cada centímetro quadrado da Terra, formando uma verdadeira “rede que abraça o planeta”. Ao mínimo contato com o solo, como por exemplo, quando você pressiona seu pé contra a terra, quando chove ou ao cair uma árvore, a rede micelial é capaz de responder, desencadeando uma sinalização química em várias direções que altera seu crescimento e comportamento. Por isso, o micólogo Paul Stamets compara a rede micelial fúngica com uma “rede neurológica” da natureza e a uma “super via biomolecular”. Embora para alguns, a descrição de Stamets pode soar metafisicamente inadequada, o micólogo está correto ao considerar que, tal como uma rede neurológica atua nos animais, a rede micelial auxilia a gerir os ecossistemas terrestres há várias eras. E se nós aprendermos a aproveitar esse potencial, poderemos ajudar nós mesmos a construir um mundo mais sustentável.
 
Aparelho digestivo da natureza
 
Muitas espécies de fungos são decompositoras na natureza – uma interface entre a vida e a morte. Essas espécies passam a maior de seu tempo no ambiente subterrâneo, degradando os tecidos vegetais e animais mortos, molécula por molécula. Com isso, os fungos podem degradar nutrientes que as plantas não são capazes de utilizar para a sua dieta em compostos acessíveis por esses organismos, contribuindo, dessa forma, para o processo da ciclagem de nutrientes na natureza. 
 
Além disso, o micélio do fungo pode explorar o solo com uma capacidade a qual as raízes de plantas não são capazes de desempenhar, disponibilizando, assim, nutrientes de baixa mobilidade e de  acesso restrito no solo para os vegetais. Esse é o caso das micorrizas, uma associação simbiôntica mutualística entre fungos e raízes de plantas – e uma das simbioses mais importantes no planeta. Muitas plantas jamais conseguiriam atingir a maturidade se não fossem beneficiadas pelo estabelecimento dessa simbiose, a qual permite o suprimento de nutrientes críticos para o desenvolvimento vegetal, como por exemplo, o nitrogênio e o fósforo. 
 
Paul Stamets, micólogo , defensor da “micorremediação”.
 
Poluição ambiental
 
Em 2011, um grupo de estudantes de graduação de Yale, em uma expedição de campo para a Amazônia equatoriana, se deparou com algo extraordinário: Pestalotiopsis microspora, um fungo tropical capaz de se alimentar do poliuretano, plástico utilizado para a confecção de diversos materiais úteis a sociedade. Após os materiais que contém poliuretano serem destinados a aterros sanitários, esse composto permanecerá na natureza por várias gerações devido a sua difícil degradação. Mas se os Pestalotiopsis forem utilizados para auxiliar nesse processo, o cenário pode ser muito diferente. 
 
Ademais, a descoberta de Pestalotiopsis não é um caso isolado: micólogos espalhados pelo mundo inteiro já identificaram cogumelos capazes de inserir em sua dieta compostos mais problemáticos ambientalmente, como o petróleo, e metais pesados e tóxicos, como o chumbo, arsênico e mercúrio, sem efeitos colaterais aparentes. Há até mesmo cogumelos capazes de se alimentar de resíduos radioativos. Tudo isso retoma a ecologia desses organismos: os fungos evoluíram para ocupar um papel ecológico muito específico – ser o “aparelho digestivo’ do nosso planeta. 
 
Atualmente, os cientistas querem usar a digestão fúngica em nosso favor, utilizando esses organismos para limpar nossa “sujeira” no meio ambiente. O micólogo Stamets encontra-se envolvido com numerosas inciativas de “micorremediação’, incluindo uma a qual investiga-se como os fungos podem auxiliar na recuperação dos impactos da radiação em Fukushima. Tais avanços nas pesquisas nos alertam para que, apesar da má reputação entre a maior parte da população – a maioria das pessoas, ao pensar em fungos, imediatamente os associam ao mofo ou a alguma doença de pele – os fungos podem ser poderosos aliados para a manutenção do equilibro do planeta.
 
 
Para saber mais sobre o assunto, acesse aos vídeos do Paul Stamets no Youtube. Para começar, o EQB indica esse aqui: http://goo.gl/wqN1L!
 
Fonte: The Technology That Will Build Our Future May Be Found In Mushrooms. Disponível em: www.gizmodo.com
Khadija Jobim
Khadija Jobim
Técnica em Controle Ambiental, bióloga e atual mestranda em Sistemática e Evolução (UFRN). Tem interesse em Taxonomia, Ecologia e Evolução de Microorganismos.
ARTIGOS RELACIONADOS

POSTS RECENTES

spot_img