A descoberta
Em 2010 pesquisadores holandeses detectaram que um fungo estava dizimando populações de salamandras (Salamandra salamandra) no país. Recentemente, sabe-se que a doença originou-se na Ásia e representa um grave risco para salamandras de qualquer região.
Testes para detecção do agente causador desse fenômeno foram realizados, com suspeitas de que poderia tratar-se de um ranavírus ou um fungo chamado Batrachochytrium dendrobatidis, conhecido por exterminar populações de anfíbios em várias partes do mundo e chegando até mesmo a conduzir algumas espécies à extinção.
No entanto, análises lideradas por An Martel, veterinário da Universidade de Ghent, Bélgica demonstraram a presença de estruturas fúngicas em pele de espécimes de salamandras, revelando ser uma nova espécie de fungo, nomeada Batrachochytrium salamandrivorans. Posteriormente a essa descoberta, os pesquisadores publicaram na revista Science um estudo que mostra que espécies de salamandras de outras regiões da Europa também são vulneráveis a B. salamandrivorans, evidenciando seu potencial de alcance devastador.
Inimigo mortal das salamandras
No estudo, um experimento submetendo salamandras, sapos e tritões à presença de esporos de B. salamandrivorans comprovou a especificidade da ação desse fungo restrita a salamandras, tendo sido infectadas um total de 44 salamandras, das quais 41 morreram. A equipe de Martel também testou a ocorrência de B. salamandrivorans em mais de 5.000 espécies de anfíbios pertencentes a diferentes partes do mundo e constataram sua presença em animais provenientes da Tailândia, Vietnã e Japão. No entanto, apesar da ocorrência do fungo, esses anfíbios não apresentaram a sintomatologia da doença, sugerindo que essas espécies podem ter desenvolvido algum mecanismo de resistência a doença.
Especula-se que os surtos iniciados na Europa tenham origem a partir da importação de salamandras da Ásia. Nos EUA, onde há um alto índice de comércio de salamandras como animais de estimação oriundas do tráfico de animais, não foi detectada a ocorrência do fungo. Contudo, de acordo com o biólogo Jodi Rowley, do Instituto de Pesquisa do Museu Australiano, Sydney, isso não significa que o fungo não represente uma ameaça para essas espécies, alertando para a necessidade de fortalecimento da fiscalização sobre a importação desses animais.
Importando companhias indesejáveis
Atualmente, o risco de importação de patógenos e parasitas nos EUA, infelizmente, é alto. Segundo Karen Lips, coautora do trabalho e bióloga da Universidade de Maryland, não há nos EUA leis que permitam a exigência de vigilância e de testes para os animais selvagens que podem estar trazendo esses organismos indesejáveis. Os projetos de leis propostos para essa finalidade encontram-se ainda em status de aguardo no congresso estadunidense.
Referências
MARTEL, A. et al. 2013. Batrachochytrium salamandrivorans sp. nov. causes lethal chytridiomycosis in amphibians. Science, v. 110(38): 15325–15329.
MARTEL, A. et al. 2014. Recent introduction of a chytrid fungus endangers Western Palearctic salamanders. Science, v. 346 (6209): 630-631.