Um homem paralisado por dois anos agora está andando novamente, embora precisando de ajuda, depois de um transplante para sua coluna. O tratamento, que será publicado na revista Cell Transplantation deste mês, está em discussão há algum tempo, mas só agora mostrou seu sucesso.
Em 2010, Darek Fidyka foi repetidamente esfaqueado, deixando-o paralisado do peito para baixo. Felizmente, no entanto, seu nariz estava ileso. No nariz, existem as Células Glias Envoltórias Olfativas, do inglês “Olfactory ensheathing glia (OEGs)” que cercam os axônios olfativos, as fibras nervosas que conduzem cargas elétricas a partir do nariz para o cérebro e nos permitem sentir o cheiro. O que as torna interessantes para os pacientes com danos na coluna vertebral é que as OEGs mantém a capacidade de produzir novos neurônios na vida adulta.
Enquanto em alguns répteis novas caudas podem se desenvolver, para mamíferos, a capacidade de recrescimento é perdida em grande parte do sistema nervoso. O neurônio receptor olfativo passa por processos estressantes, pois, eles são forçados a responder às substâncias químicas extraídas com cada respiração. Esses neurônios, geralmente, sobrevivem apenas seis a oito semanas, e exigem a substituição constante, se não estamos perdendo o nosso sentido de cheiro. Nesse caso, as OEGs atuam formando caminhos para novos neurônios receptores, fazendo com que transmitam suas mensagens.
Essa capacidade de produção de novos neurônios inspirou pesquisadores da coluna vertebral frustrados pelo fato de que o sistema nervoso central dos mamíferos não regenera axônios. A ideia dos pesquisadores é que se as OEGs são transplantadas para a medula espinhal no ponto da lesão, os axônios danificados começarão a se restaura.
Experimentos em animais produziram regeneração do axônio e até permitiu ratos e cães feridos a correrem novamente.
Após o ataque, Fidyka foi colocado em um programa de exercícios e fisioterapia intensiva, sem sucesso. Depois de dois anos, ele foi escolhido como “cobaia” para o transplante das OEGs, uma operação conjunta entre a Universidade College London e do Hospital da Universidade de Wroclaw, na Polônia. As células de um de seus bulbos olfatórios foram cultivadas por duas semanas antes de serem transplantadas através de 100 micro-injeções em torno do local da cicatriz.
O programa Panorama, de assuntos atuais da BBC TV, convidou Fidyka para filmar a sua resposta ao tratamento, e mostrar que o investimento não foi em vão. Nos primeiros momentos, apesar de cinco horas de exercício, cinco vezes por semana, Fidyka não mostrou nenhuma resposta, mas, à partir de três meses ele começou a sentir os músculos de sua coxa esquerda. Depois de seis meses, ele foi capaz de dar pequenos passos com a ajuda de muletas e barras paralelas.
À medida que o programa se prepara para ir ao ar, Fidyka é capaz de andar por conta própria com a ajuda de um andador. Alguns sentidos da bexiga, do intestino e da função sexual também estão de volta. O progresso continua, e Fidyka disse à BBC [veja a entrevista dele]: “Eu acho que é real e que um dia eu vou me tornar independente.”
O professor da University College Geoff Raisman, que descobriu as OEGs, descreveu os pequenos passos de Fidyka como “mais impressionante do que o homem andando na Lua”.
Fonte: I Fuck Love Science