Mestres da decepção, drongos podem fazer falsos chamados para obter comida. De cor preta e olhos de cor rubi, os drongos imitam o chamado de outras espécies para se alimentar. Porém, o pior ainda está por vir!
Desde 2008, Tom Flor, um biólogo evolucionista da Universidade de Cape Town, seguiu drongos no rio Kuruman no deserto de Kalahari. Ele está habituado à rotina árdua de observação e estuda grupos de cerca de 200 pássaros. Usando recompensas (alimento), ele tem treinado os pássaros a vir a ele quando ele chama. Depois de obter o seu lanche, o drongo retorna rapidamente aos seus insetos, realizando seu comportamento natural, seguindo outras espécies de aves ou suricatos, enquanto Tom Flor vai junto.
Drongos também mantém um olho bem atento para aves de rapina e outros predadores. Quando avistam um, eles proferem gritos de
alarme metálico [ouça]. Suricatos e o “pied-tagarela”, um pássaro altamente social, prestam atenção aos gritos dos drongos, e assim se escondem.
Estudos têm demonstrado que as espécies que ficam próximas aos drongos se beneficiam, pois não precisam ser tão vigilantes e podem gastar mais tempo no forrageamento. Mas, há um trade-off, que na ecologia significa uma perda mesmo quando a espécie ganha algo,
e ai a coisa fica feia! Os gritos dos Drongos
nem sempre são honestos. Quando um suricato captura uma larva grande cheia de gordura ou um pequeno lagarto, um drongo está apto a mudar a sua sentinela confiável para se tornar um enganador astuto!
Em um estudo anterior, Flor mostrou que os pássaros obtém cerca de 23% de sua alimentação diária somente com base nos alarmes falsos e, em seguida, roubam a refeição de sua vítima. O suricato que acaba de pegar um lagarto ou outra presa, por exemplo, é muito provável que vai soltá-la e correr o mais rápido possível para sua toca após ouvir os alarmes dos drongos, afinal, ele não faz ideia se é verdadeiro ou falso.
Drongos também podem imitar chamados de alarmes de inúmeras outras espécies. Ao todo, as aves podem fazer até 51 diferentes gritos de alerta. Seis são aqueles que drongos usam para anunciar a presença de vários tipos de predadores enquanto que os outros 45 são os alarmes de outras espécies. E todas as espécies, inclusive os suricatos e os pied-tagarela sabem e prestam atenção aos outros tipos de chamadas de alerta, diz Flor . “Eles são todos espiões. É como se eles falassem a língua do outro.”
“Os resultados são surpreendentes”, diz John Marzluff, um biólogo da Universidade de Washington, Seattle, que não esteve envolvido no trabalho. “Drongos são extremamente enganadores, seus vocabulários são imensos. Este nível de sofisticação é incrível.”
QUAIS SÃO OS BENEFÍCIOS AO IMITAR VÁRIAS ESPÉCIES?
Para responder a essa pergunta, Flor e seus colegas realizaram uma série de experimentos de reprodução usando os pied-tagarela como espécies-alvo. Os resultados mostraram que depois de ouvir um drongo imitar um alarme de gritos de uma espécie de ave, os pied-tagarela ficaram mais afastados de uma área de forrageamento do que quando ouviram o chamado de alerta exclusivo do drongo. Os tagarelas também ignoraram as chamadas de alarme depois que ouviram um tipo três vezes em seguida. Mas quando a terceira chamada foi um alarme no qual eles não haviam ouvido anteriormente, eles fugiram. As experiências mostram que “vale a pena para drongos ter grandes repertórios de alarme, para usar chamadas de alarme diferenciadas de acordo com o seu alvo”, diz Flores. Que é exatamente o que os pássaros fazem.
Seguindo 42 drongos selvagens marcados, ele e os seus colegas observaram 151 ocasiões em que as aves repetidamente tentaram roubar comida da mesma vítima. Em 74 destas tentativas, as aves alteraram o tipo de alarme que estavam utilizando na tentativa de enganar a vítima. Eles foram mais propensos a fazê-lo, os cientistas descobriram, quando um tipo de falsa chamada não fazia efeito. Além disso, quando um drongo mudava a sua chamada, ele tinha mais probabilidade de roubar a comida de seu alvo.
“Os drongos estão produzindo suas chamadas táticas. Eles estão mudando suas chamadas em resposta ao feedback que recebem de seu alvo”, diz Flores. “E é assim que eles são capazes de superar o problema de chorar lobo com muita freqüência.”
Mas, Dorothy Cheney, primatologista da Universidade da Pensilvânia, diz que “explicações mais simples”, tais como a aprendizagem associativa, “é mais provável ” para explicar “o que os drongos estão pensando quando produzem suas chamadas enganosas. Por exemplo, é possível que drongos aprenderam duas contingências comportamentais: um, alvos fogem quando ouvem gritos de alarme e, dois, interrompem o alarme se a chamada falsa falhou, tentando fazer a vítima fugir. No mínimo, as aves parecem ter uma compreensão de causa e efeito, observa Flor, que agora está trabalhando em um novo estudo para tentar determinar o que se passa na cabeça de um Drongo.”Os resultados são surpreendentes”, diz John Marzluff, um biólogo da Universidade de Washington, Seattle, que não esteve envolvido no trabalho. “Drongos são extremamente enganadores, seus vocabulários são imensos. Este nível de sofisticação é incrível.”
Fonte: Science News l Science