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Você sabe o que é uma serpente?

Muitos animais, como algumas espécies de lagartos,anfíbios e peixes, são confundidos com serpentes e, por isso, despertam medo e violência nas pessoas. Conheça e preserve as espécies parecidas com serpentes (mas totalmente inofensivas) da nossa fauna!
Eu achei que o primeiro texto que eu mandasse para o Eu Quero Biologia iria ser um post feliz, pois, afinal de contas, a Biologia só me trouxe felicidades e, sempre que escrevo sobre ela, é com os olhos brilhando.

Esse, porém, é um post que só veio a ser escrito por conta, não da minha paixão pela Biologia, mas da minha indignação com a desinformação e a falta de sensibilidade das pessoas.

Hoje, quando cheguei em casa, minha mãe logo veio me contar que tinha encontrado uma cobra.

_ Aonde?
Apontou uma pequenina cobrinha que estava servindo de caminho de formigas no chão, toda amassada:
_ Ali, ó.
_ Achou ela assim, esmagada?
_ Não. Tava viva. Pedi pro vizinho vir matar.
Fiquei tiririca da vida. Mas como assim? Falo de proteger animais de manhã até de noite nessa casa, não é possível que a minha própria mãe não aprenda nada comigo!
_ Mas porque?! Uma cobrinha desse tamanho, ia conseguir te morder, decerto!
_ Não agora, filha. Mas ela cresce.
Ainda roxa de brava, olhei de novo para a cobrinha esmagada. E não era uma cobra.
_ Mas isso daí nem é uma cobra!
_ Como não? É lógico que é!
_ Não. Isso é um lagarto sem patas, do gênero Ophiodes.
_ Sarah, será que você não vê que é uma cobra?
_ Não é uma cobra! É um lagarto! E era. O Ophiodes é um animal que vive sendo tachado de perigoso sem ser, e sempre acaba morrendo à cacetadas porque as pessoas o confundem com uma cobra. Mas, na verdade, ele é simplesmente um lagarto que não tem pernas! No Brasil, ele é conhecido como cobra-de-vidro, mas o nome popular é só um nome mesmo, já que ele não tem veneno.
O lagarto Ophiodes, popularmente conhecido por cobra-de-vidro: parece, mas não é uma cobra!
A foto aí em cima foi tirada em curso sobre serpentes que fiz na universidade. 
Viram como o Ophiodes é pequenino?
O lagarto cobra-de-vidro tem apenas dois vestígios do que seriam as patas dele no passado, antes da evolução fazê-lo perder os membros, tanto os da frente quanto os de trás (o que chamamos de redução apendicular). Se olharmos de pertinho, dá para ver bem esses “cotocos de pernas”, digamos assim.
Foto que tirei da cobra-de-vidro que apareceu aqui em casa: veja como é possível 
identificar os vestígios de patas
Além disso, tem características que fazem com que a gente possa diferenciar esse lagartinho de uma serpente só olhando – e depois, explicar para a mãe/pai/tia/vô que não tem necessidade de sair metendo porrada no bicho (não que com serpentes isso seja necessário). 
Por exemplo: assim como todos os demais lagartos, o Ophiodes faz algo que cobra nenhuma faz, que é soltar a ponta da cauda quando se sente ameaçado, para que o predador se distraia com o membro perdido enquanto ele foge. A gente chama esse processo de autotomia caudal.
Outros animais também podem ser confundidos com serpentes e, todos os anos, acabam morrendo por conta desse medo sem fim (e, por vezes, sem motivo) que as pessoas tem de cobras. Veja alguns exemplos:
Cobra-cega ou Cecília – Anfíbio
Assim como o lagarto que se chama cobra-de-vidro, a cobra-cega na verdade não é cobra: é um anfíbio, ou seja, faz parte da família dos sapos e salamandras. Quando manuseada, podem se contorcer e até tentar morder, mas não possuem veneno, portanto, a mordida não prejudica ninguém.

Cobra-cega da espécie Atretochoana eiselti 
Animal raro, encontrado no Rio Madeira, em Rondônia
Muçum – Peixe 
Um peixe encontrado em toda a América do Sul. Algumas pessoas os chamam de cobra-d’água (olha o nome equivocado de novo!) ou de enguia-do-pântano.

Enguias e Moréias – Peixes


Peixe-bruxa ou Feiticeira – Peixe


Lampréia – Peixe

Duas dicas para identificar se um animal é uma serpente ou não: 
1) Em primeiro lugar, NENHUMA SERPENTE TEM PÁLPEBRAS. Se abrir e fechar os olhos, não é serpente. Exemplo: os lagartos conhecidos por cobras-de-vidro. 
2) TODAS AS SERPENTES TEM ESCAMAS, obrigatoriamente. Se não tiver escamas, não é serpente. 
Bem, galera, esse post é apenas para mostrar como temos a mania de, antes mesmo de conhecer os animais que nos rodeiam, simplesmente tachá-los de perigosos e sair matando tudo que se mova. Isso não sobrevivência. É pura e simples ignorância! 
Dê um Google: veja quais são as espécies mais comuns de serpentes na sua região e anote o número do corpo de bombeiros ou polícia ambiental para ligar caso esses animais apareçam. Tentar mover o animal de lugar ou mesmo matá-lo pode expor você a riscos desnecessários. Isso sem falar que, como vimos, você pode estar confundindo um animal inofensivo com uma serpente. Por exemplo: nem todas as serpentes são peçonhentas (conseguem inocular veneno com suas presas), a grande maioria não é. Que mal pode te fazer uma serpente que não é peçonhenta?! Nenhum. Então, porque matá-la? 
As serpentes só atacam humanos para se defender, porque estamos incomodando ou fazendo com que elas se sintam ameaçadas. Viu uma cobra perto de casa? Saia de perto e ligue para o órgão responsável que possa recolher o animal com segurança (para você e parta o bicho). 
Se seu medo é muito grande, procure falar com biólogos e pessoas que trabalham com serpentes: tenho certeza que terão prazer em tirar todas as suas dúvidas. Garanto que uma simples conversa poderá mostrar que temos muito medo de animais que deveríamos defender e proteger. 
Afinal, todos os animais são super importantes para manter o equilíbrio na cadeia alimentar. Quem você acha que come aqueles ratos “nojentos” que você tanto detesta encontrar em casa? As serpentes existem porque são fundamentais, como todos os outros bichos, para que a cadeia alimentar continue funcionando em harmonia. Não interrompa esse ciclo: se informe e pergunte suas dúvidas sempre! :). [Fonte]
Até a próxima, pessoal! 
Este post foi escrito por:
SARAH WEBER
É acadêmica de biologia e escreve sobre tudo que a faz pensar duas vezes.
Acesse o seu blog: Poeta de Guardanapo
Guellity Marcel
Guellity Marcel
Biólogo, mestre em ecologia e conservação, blogger e comunicador científico, amante da vida selvagem com grande interesse pelo empreendedorismo e soluções de problemas socioambientais.
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