Desde os primórdios da existência humana, a busca por recursos e condições favoráveis de sobrevivência sempre foram o motivo maior dos esforços da espécie humana, assim como todas espécies lutam para sobreviver e deixar descendentes.
Porém, mesmo aprendendo a criar e manusear diferentes ferramentas, o que transformou o modo de vida dos hominídeos primitivos, a morte sempre foi incontrolável.
Nestas espécies de primatas a seleção natural atuava também, afinal, não haviam médico nem curandeiros nesta época, e indivíduos doentes, com má formações ou até indivíduos que se machucavam, não tinham como escapar da morte, sendo abandonados pelo grupo, ou então sendo presas de outras espécies.
Ao longo da evolução humana, com o aumento das tecnologias aplicadas ao modo de vida humano, a taxa de mortalidade diminuiu drasticamente, enquanto as taxas de natalidade aumentaram muito, tornando a sobrevivência humana muito mais fácil, mesmo com as doenças, ferimentos e má formações, aumentando a taxa de crescimento global.
Estou lendo o livro “
Fundamentos em Ecologia – 3ª Edição” do Townsend, Begon e Harper e no capítulo 12 “Sustentabilidade” é abordado este tema, sobre quais são os limites do planeta frente ao crescimento constante da população humana mundial. Será que o planeta nos suportará mesmo com as práticas sustentáveis? Por quanto tempo ele nos suportará? Essas e outras perguntas podem ser respondidas logo abaixo, através de uma série de estudos que os autores do presente livro citam.
Há uma capacidade suporte global?
Atualmente a taxa atual do crescimento do tamanho da população mundial é insustentável, embora agora ela seja menor do que já foi, tendo em vista que o planeta é um espaço finito e temos um tempo finito e então nenhuma população pode continuar crescendo para sempre.
Qual é a resposta apropriada para isto? Se sabemos que não podemos continuar crescendo continuamente, como podemos resolver este problema? Com que tamanho a população humana pode ser sustentada sobre a terra? Qual é a capacidade suporte da terra?
Existem vários problemas em torno da população humana global, onde podemos salientar alguns principais abaixo:
1. O tamanho atual da população humana é insustentavelmente alto. No ano de 200 d.C. quando haviam cerca de 1/4 de bilhão de pessoas na terra, Quintus Septimus Florens Tertullianus escreveu “nós somos onerosos, os recursos quase não são suficientes para nós”. Em 2005, o total estimado para a população mundial era de 6,5 bilhões de pessoas (Nações Unidas, 2005).
2. Insustentável não é o tamanho da população humana, mas a sua distribuição sobre a terra. A fração da população humana atualmente vivendo na zona urbana cresceu de 3% em 1800 para 29% em 1950 e 47% em 2000. Cara trabalhador rural deve fornecer alimento para si e para um habitante da cidade, em 2050, ele terá que fornecer para dois habitantes da cidade (Cohen, 2005).
3. Antes revolução agrícola do século XVIII, a população mundial levou cerca de 1.000 anos para duplicar. Hoje, a população humana tem duplicado a cada 39 anos (Cohen 2001).
4. Insustentável não é só o tamanho da população humana mundial, mas também a distribuição da idade. Nas regiões “desenvolvidas” a população de idosos (acima de 65 anos) cresceu de 7,6% em 1950 para 12,1% em 1990. Esta proporção aumentou drasticamente após o ano de 2010.
5. Insustentável não é o tamanho da população humana mundial, mas a distribuição de recursos dentro dela. Em 1992, os 380 milhões de habitantes dos países “desenvolvidos” desfrutaram de uma receita média anual de aproximadamente 22.000 dólares, enquanto que os países “menos desenvolvidos” tiveram apenas 1.600 dólares e os 2 bilhões de pessoas dos países pobres desfrutaram de apenas 400 dólares ao longo do ano.
A seguir serão mencionados alguns autores, ver Cohen (1995) e Cohen (2005) para mais detalhes sobre os estudos dos mesmos.
Muito tem sido feito para tentar prever qual a capacidade suporte do planeta, e existem vários estudos ao longo de centenas de anos. Em 1679, van Leeuwenhoek estimou que a área habitável do planeta era 13.385 vezes maior que a área do país onde ele vivia (Holanda), cuja população na época tinha cerca de 1 milhão de pessoas. Ele então estimou que toda esta área poderia ser povoada por aproximadamente 13,4 bilhões de pessoas.
Em 1967, De Wit questionou: “Quantas pessoas podem viver na terra se a fotossíntese é um processo limitante?”. Com base em seus cálculos, ele disse que aproximadamente 1.000 bilhões de pessoas poderiam habitar o planeta, mas considerou os minerais e a água não eram recursos limitantes. Se o considerassem esses fatores, juntamente com o espaço que as pessoas consideram “adequado” para viver, este número reduziria drasticamente.
Já Hullet em 1970, incluiu várias outras variáveis em seus cálculos com base na população dos EUA, incluindo não apenas os alimentos mas também o consumo de recursos como madeira, aço, alumínio, etc, onde sua estimativa não foi mais do que 1 bilhão. Kates e outros pesquisadores, em 1988, fizeram cálculos com médias globais e não apenas dos EUA, e estimaram uma capacidade suporte global de aproximadamente 5,9 bilhões de pessoas que deveriam ter uma dieta básica (principalmente vegetariana) e 3,9 bilhões de pessoas com uma dieta “melhorada” (com 15% de calorias oriundas de animais), ou ainda, 2,9 bilhões com uma dieta de até 25% de calorias oriundas de animais.
Porém, recentemente, mais especificamente em 2005, o pesquisador Wackernagel e colaboradores buscaram mensurar a quantidade de terreno que utilizamos para produzir diversos recursos e absorver resíduos, criando o conceito de “pegada ecológica“. Suas estimativas foram que as pessoas estavam usando, em 1961, 70% da capacidade da biosfera, enquanto em 1999 estavam usando 120%, argumentando que a capacidade suporte global já havia sido ultrapassada antes do novo milênio, quando a população mundial tinha atingido 6 bilhões.
Porém, Cohen salientou que muitas estimativas estão associadas aos terrenos biologicamente produtivos, água, energia, alimentos, etc, tendo uma única dimensão, gerando dificuldades associadas a todas elas, onde um impacto de um fator depende do valor dos outros. Por exemplo, se a energia for abundante mas a água for escassa, a água do mar pode ser dessalinizada e transportada para outros lugares, porém isso não seria possível onde a energia é muito cara. Além disso há diferenças em relação a quantidade de terra disponível para ocupar e a quantidade de terra que uma pessoa considera “aceitável” para viver, fazendo com que as estimativas variem.
O caminho que temos a seguir é único: devemos agir urgentemente, mudar nossos modos de vida, reaproveitar o possível e reduzir o consumo, ter somente o necessário para viver com conforto e segurança, e acima de tudo, agir com responsabilidade ambiental, economizando recursos evitando o desperdício e o consumo desenfreado de coisas que muitas vezes são apenas luxo e não nos acrescentam em nada.
Em muitos países as pessoas quando vão trocar de carro, dão o carro velho de entrada, como parte do pagamento pelo carro novo. O carro velho é desmontado, suas peças são reaproveitadas e a sucata origina novas peças e acessórios para os carros novos que serão fabricados. Já aqui no Brasil, por exemplo, os carros usados circulam até apodrecerem totalmente e até quando não for mais possível se deslocar com os mesmos, e então estes são aglomerados em ferro-velhos. O aço, que compõe grande parte dos veículos, não tem limites de reciclagem, ele pode ser reciclado várias vezes e à partir dele pode-se criar novas peças o tempo todo. É o que ocorre na China, Japão, EUA, e alguns países da Europa, onde até a circulação de carros velhos nas ruas é proibida, de tal forma que as pessoas trocam de carro sempre que podem e com muita facilidade, porque as peças dos seus carros antigos sempre estarão em boas condições, para serem aproveitadas na fabricação de carros novos. Esta é uma importante forma de redução de custos na fabricação de veículos novos, e consequentemente uma gera uma grande redução no consumo de diversos recursos naturais.
Veja o vídeo abaixo que pode complementar o que eu mencionei acima:
Além disso, vários outros produtos são reciclados ou reaproveitados em diferentes países, como por exemplo os eletrodomésticos ou eletroeletrônicos. Em muitos locais, as empresas que vendem estes produtos novos aceitam como parte do pagamento os produtos antigos dos donos. Desta forma, também há reduções de gastos para a empresa fabricante dos produtos bem como há reduções no consumo de recursos. Em vários outros setores esta forma eficiente de troca está ocorrendo, mas isso ocorre somente nos países mais desenvolvidos. Nos EUA um jovem pode levar o seu console PS2 numa loja e pagar parte de um console PS3 novo, ou ainda, pode dar o seu PS3 e pegar um PS4 e pagar o restante do valor. Estes consoles usados que as lojas e empresas recolhem, são restaurados, recuperados, limpos, reutilizados na fabricação de novos consoles e estes são vendidos para diversos países com status econômico inferior.
As atividades humanas cada vez mais aumentam os impactos sobre o meio ambiente e é muito provável que nenhum de nós humanos gostaríamos de viver esmagados por um teto ambiental ou desejássemos isso para nossos descendentes. De qualquer forma, a população humana é limitada por seus recursos naturais mas também pelas doenças!
POPULAÇÃO MUNDIAL 400 A.C. – 1985 D.C.
As doenças, atualmente, são concebidas pela Organização Mundial da Saúde, como as principais ameaças a bem-estar humano. Consideremos as crescentes epidemias de tuberculose, HIV e AIDS e as mortes causadas por malária, podemos observar que as doenças se desenvolvem melhor em populações mais densas, e devemos muito nos alertar a isso. Mas, talvez, pelo jeito que andam as coisas, uma epidemia que reduzisse grande parte da população humana, poderia ser a chave para agirmos de modo diferente, respeitando os limites da natureza e valorizando tudo que ela nos oferece. Pois mesmo que tentemos fazer o correto, sempre haverão os gananciosos, os capitalistas, prontos para derrubar, destruir e poluir, tudo em prol do maldito dinheiro, que destrói o que mais temos de precioso: o nosso lar, o planeta.
Todas as sugestões que podemos dar para a capacidade suporte global depende exclusivamente das escolhas que faremos para nós e para os outros. A maioria das pessoas escolheriam viver ao menos tão bem quanto vivemos no presente, porém a população global poderia escolher para todos nós, vivermos tão bem quanto as pessoas dos países desenvolvidos? A resposta para qualquer questão que possamos dar para a capacidade suporte do planeta depende do que queremos dizer com ela, afinal, a definição dos autores do livro (Townsend, Begon & Harper) para a “capacidade de suporte global” está longe de ser compreendida.
Explorando recursos vivos da natureza
Um limite muito importante para as populações de diversas espécies na natureza, incluindo a humana, é a quantidade de alimento disponível. Nós utilizamos muitas espécies como alimento, selecionando e colhendo partes da população e deixando o restante para que cresça/desenvolva novamente, objetivando futuras colheitas. Além disso, nós obtemos outros recursos da natureza, que podem ser o peixe do mar, o cervo de uma floresta, ou a madeira de uma floresta. Porém, existem uma diferença importante entre os recursos obtidos deste modo e os recursos que são cultivados. Nos cultivados nós escolhemos espécies vegetais ou animais e as produzimos na quantidade que queremos, objetivando não só a alimentação própria como também a venda destes recursos para obtenção de outros recursos por meio do dinheiro.
Porém muitas empresas realizam colheitas de recursos diretamente da natureza, como no caso da pesca marinha, o que acaba ocasionando prejuízos para as diferentes espécies pescadas que muitas vezes não foram estudadas e não se sabe ao certo o período que estas devem permanecer vivas e se reproduzindo para serem pescadas novamente.
Devemos nos atentar para um conceito muito importante utilizado nas pescas e também nos diversos outros recursos explorados pelos humanos : produção máxima sustentável – PMS.
Quando uma determinada população é explorada e parte de seus indivíduos é retirada, ela é levada ao perigo biológico e até mesmo à extinção, e as empresas precisam entender estes fatores, uma vez que elas sempre buscam a sobre-pesca, ou sobre-exploração, ou seja, buscam obter mais do que obtiveram anteriormente. O problema é devido ao crescimento das empresas exploradoras de recursos, a sobre-exploração vem aumentando de tal forma que as populações naturais não conseguem se estabilizar e recuperar-se, constantemente mantendo-se em estado vulneráveis, podendo ser extinta caso qualquer mudança ambiental afete a população restante das espécies exploradas.
Por isso, este conceito de PMS foi muito bem aplicado nas explorações de recursos, buscando regular as atividades exploratórias, para que se explore o máximo possível, mas sempre respeitando os limites das populações naturais.
A produção de alimento é sem dúvida alguma a parte essencial para a sobrevivência da espécie humana, porém, com base nessa afirmação muitas empresas exploradoras de recursos alimentares ou empresas que cultivam alimentos reforçam a importância de suas atividades, de tal forma que querem aumentar a capacidade de produção objetivando o maior lucro, despreocupadas com o meio ambiente, como por exemplo o caso da implantação do novo código florestal, onde o sr. Aldo Rebelo e toda a bancada ruralista queriam aumentar as áreas de desmatamento para a produção de alimento. Este é um grande problema que enfrentamos, afinal, todos nós humanos, biólogos, ambientalistas ou não, precisamos nos alimentar, e quem desmata para plantar é quem nos alimenta.
Assim como precisamos de alimento, também precisamos de casa, roupas, carro, tecnologia, saúde, e vários outros recursos essenciais para nossa sobrevivência. Mas como podemos viver sem exigir tanto da natureza, sem aumentar a exploração dos nossos recursos naturais?
Nós desejamos que todos possam usufruir dos recursos que o planeta oferece, principalmente nossos descendentes, mas o que fazemos para garantir que nossos descendentes tenham os mesmos recursos que temos disponíveis agora?
O que você pode fazer para ajudar a conservar os recursos naturais do planeta para as futuras gerações? Como você pode cuidar do planeta? Você faz a sua parte?
Essas e outras perguntam são motores que movem a busca de novas tecnologias para que possamos aplicá-las à produção sustentável e a exploração sustentável de diferentes recursos, para que possamos ter qualidade de vida e, ao mesmo tempo, para que possamos viver em harmonia com a natureza, pois sem ela e todos os seus recursos, nós não existiríamos.
Nós não podemos mensurar qual a verdadeira capacidade suporte do planeta ou quantas pessoas podem viver nele, mas nós sabemos que do jeito que estão as coisas, nossas expectativas futuras não são muito boas. Então, que possamos cada vez mais agir de forma rápida e buscar aumentar a qualidade de vida de tal forma que possamos reciclar mais, reduzir o consumo e gerenciar de forma sustentável a oferta de recursos naturais. Só assim poderemos garantir que nossos descendentes desfrutem dos mesmos recursos que temos, ou, que possamos ainda, oferecer qualidade de vida e um ambiente preservado muito além do que temos agora.
Eu quero fazer minha parte, escolhi a biologia para ajudar o planeta. E você, como quer fazer sua parte?