Cânion Itambezinho. Foto: Lucio Santos |
As novas espécies foram descobertas em uma Unidade de Conservação – UC por pesquisadores do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio), no Parque Nacional de Aparados da Serra no Rio Grande do Sul ao longo de três grandes expedições ao cânion Itaimbezinho, formado pelos Rio do Boi e Mampituda, entre o RS e Santa Catarina.
Foram registradas 22 espécies de peixes e pelo menos 5 são ainda desconhecidas pela ciência. Agora os pesquisadores, através de estudos moleculares sistemáticos realizados por especialistas na área, tentam diferenciar uma dessas novas espécies.
No interior do cânion Itaimbezinho no trecho do Rio do Boi, 15 espécies foram reveladas, das quais dez são endêmicas, ou seja, exclusivas deste local, o que ainda revelou que devido a dificuldade de acesso esta foi a primeira pesquisa de ictiofauna realizada neste ambiente.
Pesca elétrica
A metodologia adotada pelo grupo foi o da pesca elétrica, que possibilita uma amostragem mais eficiente e menos seletiva que os métodos tradicionais e coleta de informações sobre todas as espécies que habitam uma área definida.
O interior do Itaimbezinho possui várias seções de habitat que são isoladas por grandes quedas d’água originadas à partir das nascentes formadas pelos rios do Boi e Mampituba, que estão totalmente protegidas.
Uma das espécies descoberta. Foto: Lucio Santos |
Habitats isolados, como ilhas e cavernas, geralmente abrigam espécies endêmicas ou pelo menos raras ou desconhecidas pela ciência. Até o momento, não havia informação sobre peixes e outros organismos do habitat lótico (água corrente) de Aparados da Serra.
Parceria
O trabalho de desvendar o monumento, que fica dentro do parque, contou com a parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). O grupo identificou ao todo cinco seções de habitat, das quais três são totalmente isoladas por barreiras naturais e duas conectadas a bacias maiores.
O trabalho apresenta contribuições às listas de espécies de bacias hidrográficas. Nenhuma das espécies encontradas está presente nas listas de espécies ameaçadas de extinção. A maioria não tem dados suficientes para avaliação, necessitando estudos mais aprofundados.
De acordo com o analista ambiental do ICMBio e mestre em Ecologia e Especialista em Diversidade e Conservação da Fauna, Lúcio Santos, as novas informações reforçam a importância do Parque Nacional Aparados da Serra. “Assim como aumenta a responsabilidade sobre a conservação dessa biodiversidade”, frisa ele.
Ameaças
Entre as ameaças sobre essa biodiversidade ainda desconhecida de Aparados da Serra, segundo a pesquisa, estão a estradas que cortam os cursos d’água com bueiros, que podem fragmentar o habitat e dividir populações. “Não podemos afirmar, até o momento, que algum dos bueiros existentes represente ameaça concreta à conservação da conectividade, porém, um dos bueiros identificados, conforme o manejo, pode dividir a população de uma das espécies exclusivas do Rio Camisas”, esclarece o pesquisador Lúcio Santos.
O parque é limitado por um lado pelo Rio Camisas, que está conectado à bacia Taquari-Antas (RS). “Há forte pressão por asfaltamento e constante manutenção das estradas existentes”, diz Santos.
Outra ameaça é a possível introdução de espécies exóticas, que pode prejudicar a composição original das comunidades nativas. “Também não foram encontradas espécies exóticas. Contudo, estamos atentos às pisciculturas existentes no entorno, bem como ao avanço da agricultura e silvicultura na zona de amortecimento”, afirmou o pesquisador. [Fonte]