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Diferenças entre Peixes Cartilaginosos e Ósseos

Os peixes representam a maior classe em número de espécies conhecidas entre os vertebrados. Ocupam as águas salgadas dos mares e oceanos e as águas doces dos rios, lagos e açudes. Nesse grupo, existem cerca de 24 mil espécies, das quais mais da metade vive em água salgada. O tamanho médio dos peixes pode variar de um centímetro a até cerca de 18 metros.
 
PEIXES CARTILAGINOSOS (CLASSE CHONDRICHTHYES)
  

As formas viventes de peixes cartilaginosos podem ser divididas em dois grupos: aqueles com apenas uma abertura branquial em cada lado da cabeça e aqueles com muitas aberturas em cada lado. O clado com uma abertura é o Holocephali (Grego holo = todo e  cephalo = cabeça), nomeado assim devido à aparência não dividida da cabeça, a qual resulta em apenas uma abertura branquial. O nome comum para este grupo – quimera – vem de suas formas bizarras: uma cauda longa e flexível, um corpo com a forma de peixe e uma cabeça com olhos grandes e dentes salientes que lembram uma caricatura de um coelho. Os Elasmobranchii (Grego elasmo = placa e branch = brânquia) têm aberturas branquiais múltiplas em cada lado da cabeça e incluem os tubarões (geralmente, com forma cilíndrica, cinco à sete aberturas branquiais em cada lado da cabeça), bem como as raias (formas achatadas com aberturas branquiais na face ventral  da cabeça).

Os Elasmobranchii, com cerca de 1.100 espécies, são divididos em três subgrupos principais (Squalomorphii e Galeomorphii – tubarões e cações, e Batoidea – raias), e um número bem inferior de Holocephali (quimeras, com cerca de 40 espécies). Todos são predadores, utilizando de presas pelágicas de grande porte (peixes, tartarugas, mamíferos aquáticos) a presas pequenas, como invertebrados com exoesqueleto duro, que trituram com dentes achatados (caso das quimeras e maioria das raias), e mesmo plâncton (filtradores – tubarão-baleia, mantas). Os peixes cartilaginosos habitam ambientes marinhos (a maioria) e podem ser dulcícolas também, como as raias dos gêneros Plesiotrygon, Potamotrygon e Paratrygon.

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Os fósseis de Chondrichthyes mais antigos datam do Devoniano inferior e o grupo sobreviveu com sucesso até os dias atuais. Os Chondrichthyes são caracterizados por:

1. Extrema redução da armadura dérmica, que não recobre o corpo do animal, estando restrita a algumas estruturas, como espinhos da nadadeira dorsal;

2. Endoesqueleto basicamente cartilaginoso, frequentemente calcificado, mas nunca ossificado; o crânio é uma peça única, sem suturas, assim como as maxilas;

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Agnatha atuais e Chondrichthyes – Licenciatura em Ciências · USP/Univesp.

3. Escamas do tipo placoide, exclusivas desse grupo – são escamas semelhantes a dentes pequeninos, formados por dentina e um tipo de esmalte (esmalte é um tecido altamente mineralizado, muito duro, de origem epidérmica, em oposição à dentina e osso, de origem mesodérmica), imersas no corpo do animal (a ponta da escama rompe a pele), conferindo uma textura áspera, de “lixa”.

Os dentes desses animais são homólogos às suas escamas placoides que, na boca, se desenvolvem bastante, apoiando-se nas maxilas por ligamentos (e não com raízes em depressões das maxilas como nos mamíferos); no entanto, não são homólogos aos dentes dos Osteichthyes, representando evolução paralela a partir dos dentículos da armadura dos ostracodermes. Um problema é esses dentes, não estando bem fixos, serem perdidos por desgaste e queda. Veja o post sobre a reposição dos dentes dos tubarões.

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Esse problema foi superado pela capacidade de substituição, mecanismo também observado em alguns peixes ósseos: os dentes ficam dispostos em fileiras ao longo de uma espiral, de forma que, na linha externa das maxilas, estão as fileiras com dentes funcionais, enquanto internamente, recobertas pela mucosa bucal, estão as fileiras de dentes em desenvolvimento.

4. Presença de clásper nos machos, órgão de cópula pareado desenvolvido a partir dos raios mediais (voltados para a linha mediana ventral do corpo) das nadadeiras pélvicas. 

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Agnatha atuais e Chondrichthyes – Licenciatura em Ciências · USP/Univesp.

A reprodução acontece de modo em que o macho encosta o clásper na cloaca da fêmea e os espermatozóides são liberados escoando para dentro da fêmea. Assim, os espermatozóides migram para o óvulo pelo oviduto onde ocorre a fecundação. A cloaca é uma abertura que auxilia na reprodução e também na excreta. As fêmeas de tubarões e raias são maiores que os machos. Portanto, a fecundação é interna, abrindo a possibilidade para oviviparidade e viviparidade (ver abaixo) nesse grupo.

Os condricties não têm bexiga natatória. Nos peixes cartilaginosos, a diminuição do peso específico (densidade do corpo) dá-se pelo acúmulo de óleo (mais leve que a água) no fígado. Assim, não é verdade que os tubarões precisam nadar o tempo todo para não afundar. Não é verdade também que os tubarões nadam o tempo todo também por causa das trocas gasosas, pois não teriam mecanismos para ventilação das brânquias. Esses animais possuem mecanismos musculares de entrada ativa de água na boca e saída pelas fendas faríngeas, banhando as brânquias de modo a proporcionar as trocas gasosas. Por isso, observam-se elasmobrânquios parados no fundo, sem problemas para respirar.

Estes animais possuem boca ventral com dentes recobertos de dentina, 10 pares de nervos cranianos, não possuem bexiga natatória, pele rígida recoberta por escamas placóides, cintura pélvica e peitoral, coração com duas câmaras (átrio e centríolo), rins mesonéfricos (atuam na flutuabilidade do animal), sexos separados, respiração por brânquias de 5 a 7 pares, ductos reprodutores e excretores no qual abrem-se na cloaca, desenvolvimento indireto (se desenvolvem dentro da mãe), ovos megalécitos com grande quantidade de vitelo. A circulação destes animais é fechada, onde os diferentes sangues (rico e fraco em oxigênio) se misturam, pois não há separação das câmaras cardíacas.

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Agnatha atuais e Chondrichthyes – Licenciatura em Ciências · USP/Univesp.
Mas se os peixes cartilaginosos não possuem bexiga natatória, como eles não afundam? Veja a explicação para isso aqui!
PEIXES ÓSSEOS – CLASSE OSTEICHTHYES
 
Os peixes ósseos possuem o esqueleto ósseo e são muito diferentes dos peixes cartilaginosos. A maioria possui escamas, todos possuem bexiga natatória, glândulas produtoras de muco que reduzem o atrito com a água durante a natação, boca em posição terminal em geral com dentes, quatro pares de fendas branquiais; nadadeiras peitorais e pélvicas em pares, nadadeira dorsal, caudal e anal únicas; sexo separado, fecundação externa e interna, maioria ovípara, desenvolvimento direto ou indireto.
 
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Os Teleostei possuem uma imensa diversidade, tanto taxonômica (estima-se em cerca de 25.000 o número de espécies atuais, em oposição, p. ex., às 10.500 aves e 5.500 mamíferos) quanto morfológica e ecológica. Atualmente, são reconhecidas cerca de 60 Ordens e 480 famílias de teleósteos (os números exatos variam de acordo com os arranjos taxonômicos, que podem mudar à luz de novos estudos). Os teleósteos são encontrados em águas salgadas, salobras e águas doces do Equador às regiões polares (adaptações anticongelamento), de pequenos riachos de cabeceira e águas temporárias (adaptações para sobrevivência à seca, formas de resistência) ao fundo de grandes rios como o Amazonas, Nilo, Congo e Mekong, e regiões marinhas batiais (abaixo de 1.000 m de profundidade), em águas altamente correntosas (adaptações contra o arrastamento) e paradas, inclusive com atividade temporária fora da água.
 
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Osteichthyes: Actinopterygii – Licenciatura em Ciências · USP/Univesp.
As escamas elasmoides dos teleósteos são compostas por anéis concêntricos, representando as fases de crescimento, podendo ser do tipo cicloide, com borda lisa (caráter plesiomórfico), ou ctenoides, com uma franja de projeções em forma de pequenos espinhos na borda posterior, conferindo uma textura mais rugosa.
 
Os modos reprodutivos são igualmente variados. O mais frequente é a fecundação externa, seguida ou não de cuidado parental, mas há casos de viviparidade, dos quais os mais conhecidos são os lebistes e os guarus. Em geral, são dioicos (macho e fêmea), mas há casos de hermafroditismo e até de troca de sexo ao longo da vida. 

  
diferencas entre peixes cartilaginosos e osseos
Osteichthyes: Actinopterygii – Licenciatura em Ciências · USP/Univesp.
Mecanismos de flutuabilidade em peixes envolvem a diminuição da densidade total do corpo pela incorporação de componentes de baixa densidade (gases, óleos) em diferentes órgãos. Como já apresentado no tópico anterior, os elasmobrânquios incorporam quantidades consideráveis de óleo no fígado, mais importante para as espécies essencialmente pelágicas. Alguns teleósteos marinhos de águas rasas também utilizam óleos para diminuir a densidade corpórea, incorporados principalmente nos ossos. O problema é os mecanismos como esse não permitirem ajustes rápidos às variações de pressão, temperatura e salinidade, que alteram a densidade do meio. Assim, os peixes ósseos desenvolveram um mecanismo mais rápido e eficiente para controle da flutuação, o qual envolve o uso do divertículo faríngeo, que apareceu inicialmente como órgão para respiração aérea (pulmão) nos Osteichthyes, como órgão para auxiliar na flutuação, passando então a se chamar bexiga natatória (dentro da hipótese mais aceita).
 
Resumindo, as diferenças principais entre peixes cartilaginosos e ósseos são:
 
diferencas entre peixes cartilaginosos e osseos
 
Este post contem a reprodução fiel ou resumida de alguns trechos das apostilas Agnatha atuais e Chondrichthyes e Osteichthyes: Actinopterygii do curso de Licenciatura em Ciências  da USP/Univesp. Para saber mais detalhes sobre peixes cartilaginosos e ósseos, recomendo que leiam estes dois materiais.
Guellity Marcel
Guellity Marcel
Biólogo, mestre em ecologia e conservação, blogger e comunicador científico, amante da vida selvagem com grande interesse pelo empreendedorismo e soluções de problemas socioambientais.
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